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O
Futuro do Planejamento Estratégico: Aprendizagem
e Viabilidade de um Processo de Mudança na
Sociedade da Informação
Márcio
Botelho da Fonseca Lima
Luiz
Bueno da Silva
Universidade
Federal da Paraíba, Centro de Tecnologia
Cidade
Universitária, CAMPUS I, CEP 58.05l-970 - João
Pessoa, Paraíba
E-mails:
tico@netwaybbs.com.br
bueno@producao.ct.ufpb.br
Abstract
The objective
of this paper is to establish conjectures about
the strategic planning in the information
society. For such end, it is divided in three
parts. In the first, it stands out consecrated
authors' recent contributions in the domain of
the Strategic Management such like Gary Hamel and
C. K. Prahaladad, Bala Chakravarthy and Benft -
Ake Lundvall, among others. In the second, the
probable characteristics of the evolution of the
structures of the companies that will act in the
environment of the information society are
presented. In the third part, under the optics of
the model of the firm out of equilibrium of M.
Amendola and J. L. Gaffard, the consistency of
the predictions exhibited in this paper is
evaluated, especially the existence of the sunk
costs as strong dynamic restriction, that can
influence in a considerable way the formulation
of strategies in the industrial and services
companies.
Keywords:
Information Society; Strategic Management; Sunk
Costs.
Resumo
O objetivo
deste artigo consiste em estabelecer conjecturas
sobre o planejamento estratégico na sociedade da
Informação. Para tal fim, ele será dividido em
três partes. Na primeira, destacar-se-ão as
contribuições recentes de autores consagrados
no domínio da Administração Estratégica, tais
como Gary Hamel e C.K. Prahaladad, Bala
Chakravarthy e Benft - Åke Lundvall, entre
outros. Na segunda serão apresentadas as
prováveis características das evoluções das
estruturas das empresas que atuarão no ambiente
da sociedade da informação. Finalizando, sob a
ótica do modelo da firma em desequilíbrio de M.
Amendola e J. L. Gaffard, na terceira parte,
será avaliada a consistência das predições
exibidas neste artigo, especialmente a
existência dos custos irreversíveis que serão
as principais restrições intertemporais a que
as empresas industriais e de serviços estarão
submetidas durante o estabelecimento de suas
estratégias.
Palavras-chave:
sociedade da informação, planejamento
estratégico, custos irreversíveis.
INTRODUÇÃO
A sociedade da
informação deverá ser baseada em um sistema
sócio-técnico comportando três elementos, a
saber: as redes, também denominadas
infra-estruturas de comunicação; os serviços
genéricos que representam os transportadores que
facilitarão o acesso à informação (banco de
dados), sua transmissão (correio eletrônico,
transferência de arquivos), sua troca (vídeo
interativo); as aplicações, análogas às
mercadorias veiculadas no transporte físico, que
são relacionadas com o conteúdo e a finalidade
da informação transportada (aplicações de
transação, de lazer, de formação,
teletrabalho...).
A metodologia
deste trabalho foi baseada numa abordagem
comparativa das contribuições de autores
relevantes no domínios da Economia da Inovação
e da Estratégia, em relação às perspectivas
referentes às estruturas e aprendizagem das
instituições que sustentam o conhecimento nos
países Ocidentais e Asiáticos.
1. CONTRIBUIÇÕES DE
AUTORES INFLUENTES
1.1. As Contribuições
de GARY HAMEL e C. K. PRAHALAD (1989)
Em que pesem os
esforços direcionados no sentido de implantar
indústrias no exterior com o intuito de reduzir
custos de mão-de-obra, de racionalizar linhas de
produtos a fim de obter economias de escala
globais, de instituir Círculos de Qualidade e
produção Just-In-Time, além de adotar
práticas japonesas em matéria de recursos
humanos, os gerentes de firmas transnacionais
sediadas no ocidente não executam senão uma
pura imitação.
Destarte, muitas
empresas estão gastando energias consideráveis
para simplesmente reproduzir vantagens em termos
de custos e qualidade, das quais seus
competidores globais já dispõem. Embora tal
imitação possa significar um ato de
reconhecimento de manobras estratégicas
eficazes, ela não resultará em revitalização
competitiva pois estratégias que se baseiam em
imitação são transparentes para concorrentes
que já dominam suas formulações e resultados.
Além disso, para aqueles executivos e suas
firmas, reganhar competitividade significará
repensar muitos conceitos básicos de
estratégia.
De fato, os
autores acreditam que conceitos tais como ajuste
estratégico (entre recursos e oportunidades),
"estratégias genéricas" (baixa de
custos versus diferenciação versus
focalização) e "hierarquia da
estratégia" (objetivos, estratégias e
táticas), geralmente, tenham incitado o processo
de declínio competitivo. Os novos competidores
globais abordam a estratégia sob uma perspectiva
que é fundamentalmente distinta daquela que
escora o pensamento gerencial ocidental. Contra
tais competidores, ajustamentos marginais em
ortodoxias correntes provavelmente produzem
apenas revitalização competitiva no que
concerne a melhorias adicionais em matéria de
eficiência. A título de ilustração, os
autores apresentam as principais diferenças
entre os modos norte-americano e japonês de
visualização da estratégia, das vantagens
competitivas e do papel dos executivos.
Dois modelos
contrastantes de estratégia emergem. Um deles,
que a maioria dos gerentes seniors ocidentais
adota, é centrado na questão de realizar
ajustes estratégicos. O outro se concentra no
problema de alavancagem de recursos. Tais modelos
não são mutuamente exclusivos, mas eles
apresentam uma diferença significante em termos
de ênfase - uma ênfase que afeta
consideravelmente a forma com que as batalhas
competitivas são travadas ao longo do tempo,
sendo que o segundo modelo privilegia as ações
a longo prazo. Ambos os modelos reconhecem o
problema da competição que se efetua num
ambiente hostil com recursos limitados. Mas
enquanto a ênfase do primeiro consiste em
reprimir ambições para alocar com eficiência
os recursos disponíveis, a ênfase do segundo se
concentra em alavancar recursos para atingir
objetivos "aparentemente" inatingíveis.
Os dois modelos
preconizam que a competitividade relativa
determina a lucratividade relativa. O primeiro
enfatiza a procura por vantagens que são
inerentemente sustentáveis, enquanto que o
segundo põe ênfase na necessidade de acelerar a
aprendizagem organizacional para ultrapassar
competidores na construção de novas vantagens.
Ambos, enfim, destacam a necessidade de
desagregar a organização de tal maneira que
permita a alta administração diferenciar as
necessidade de investimento entre as várias
unidades de planejamento. No primeiro modelo, os
recursos são alocados nas unidades de
produto-mercado cujos agrupamentos são definidos
por produtos, canais de distribuição e
consumidores comuns. Cada unidade estratégica de
negócios deve possuir todas as competências
críticas que ela necessita para executar sua
estratégia com sucesso. No segundo,
investimentos são feitos em core
competências (semicondutores e fibras óticas,
por exemplo), assim como em unidades
produto-mercado.
Os autores
argumentam ainda que as empresas que obtiveram
liderança global durante os últimos 20 anos
começaram, invariavelmente, com ambições que
eram despropositadas em função de seus recursos
e capacidades. Uma tal visão é denominada
"Intenção Estratégica" (ou
"propósito estratégico") pelos
autores supracitados. Expressões tais como
"bater xerox", cunhada pela Canon, são
exemplos típicos de IE.
1.2. As Contribuições
de BALA CHAKRAVARTY (1997)
Segundo Bala
Chakravarty (1997), a Infocom é constituída por
quatro agrupamentos principais: 1) Provedores de
Informação, tais como mídia, filme, música e
publicidade; 2) Processadores de Informação,
tais como computador e software; 3)
Provedores de Comunicação, como as estações
de televisão e telefonia; 4) Suporte de
Comunicação, como os fabricantes de
equipamentos de telecomunicação e componentes
eletrônicos. Chakravarty define turbulência
como um fenômeno ambiental na qual as vantagens
competitivas são criadas e destruídas por causa
da interação dinâmica em quatro áreas de
competição: 1) custo e qualidade; 2) momento
certo de agir para ter o retorno esperado (timing)
e know-how; 3) defesa de uma posição (strongholds);
e, 4) embolsar fundos (deep pochets). Na
Infocom, a inovação tecnológica permite que as
características (qualidade) melhorem
constantemente ao mesmo tempo em que os custos
caem. Além disso, ela faz com que vantagens
competitivas fiquem rapidamente obsoletas pelo
surgimento de Know-how especializado.
1.3. Contribuições de
BENGT-ÅKE LUNDVALL
Segundo Lundvall
(1997), referindo-se aos riscos e oportunidades
decorrentes da revolução das TICs no contexto
da economia do conhecimento, a utilização
inteligente das TICs deve preferencialmente ser
considerada como uma infra-estrutura de suporte
à formação e ao uso de conhecimento tácitos.
Nesse sentido, dois modelos de desenvolvimento
são sumariamente apresentados. O modelo oriental
apresenta propriedades comuns às
características institucionais que sustentam os
conhecimentos das regiões do Sudeste Asiático e
do Japão. O modelo ocidental comporta
similitudes com as características
institucionais que emergem na Europa Ocidental e
nos Estados Unidos. O primeiro modelo é
explícito em relação à exploração do
conhecimento tácito, enquanto que o segundo é
regido pela necessidade permanente de reduzir a
importância de conhecimento tácito e de
transformá-lo em informação - isto é, em
conhecimento explícito, bem estruturado e
codificado.
O autor
supracitado conclui que o modelo ocidental parece
funcionar razoavelmente em economias fortemente
desenvolvidas em grande escala, tais como a dos
Estados Unidos, ao passo que em economias
emergentes como a do Brasil sua eficácia
torna-se incipiente, pois negligenciar a
importância do conhecimento tácito conduz a uma
má interpretação do papel a ser desempenhado
pelas TICs na economia do conhecimento.
2. PERFORMANCE
ECONÔMICA NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
A Sociedade da
Informação deverá ser baseada em um sistema
sócio-técnico comportando ao menos três
componentes, a saber: As redes, também
denominadas infra-estruturas de comunicação. Os
serviços genéricos que, por analogia com o
mundo do transporte físico, representam os
transportadores que facilitarão o acesso à
informação (banco de dados), sua transmissão
(correio eletrônico, transferência de
arquivos), sua troca (vídeo interativo). As
aplicações, análogas às mercadorias
veiculadas no transporte físico, que são
relacionadas com o conteúdo e a finalidade da
informação transportada (aplicações de
transação, de lazer, de formação,
teletrabalho ...).
Num domínio tão
vago e dinâmico no qual se insere a Sociedade da
Informação, cujas definições não são ainda
estabilizadas, é evidente que fazer prospectivas
e tirar conclusões sobre a ligação entre a
Sociedade da Informação e trabalho torna-se uma
tarefa bastante difícil. Assim, esse artigo
limitar-se-á de preferência ao levantamento das
controvérsias existentes nos discursos atuais,
relativas aos impactos sobre a evolução das
estruturas das empresas (Lobet-Maris, C., Delhaye
R., Bastelaer B., 1996).
2.1. Impactos sobre a
Evolução das Estruturas das Empresas
No Livre Blanc
(1994), os efeitos da instalação de grandes
infra-estruturas são apresentados com clareza.
Eles vão no sentido de uma certa
descentralização das relações de produção.
Os sistemas hierarquizados e lineares vão
progressivamente dando lugar às organizações
interativas. Esse movimento de
descentralização, apoiado sobre as novas
tecnologias, nos conduz em direção a uma
verdadeira sociedade da informação. O
corolário da descentralização é, com efeito,
a comunicação e a repartição da informação
e do saber.
Por outro lado, o
relatório Bangemann (1994) valoriza a imagem de
uma economia de mercado puramente sustentado pelo
dinamismo de Pequenas e Médias Empresas (PME).
Originalmente, essa vontade de fazer as PME a
ponta de lança da sociedade de informação
remonta a uma velha oposição em economia
industrial, entre gestão das relações
industriais pelo mercado ou pela integração
hierárquica dos diferentes parceiros que
participam de um mesmo processo no seio de
grandes grupos industriais. A vantagem da
fórmula mercado reside no jogo concorrencial
sobre os preços dos bens e serviços trocados.
Todavia, uma tal fórmula apresenta também um
custo, a saber, aquele engendrado pela pesquisa
de parceiros competitivos e pela coordenação
das transações. Este custo é, notadamente, um
custo transacional.
Por outro lado, a
vantagem da fórmula hierárquica reside,
precisamente, na limitação desse custo
transacional à medida que, de uma parte, não
há pesquisa de parceiros (estes são conhecidos
e membros de grupos) e, de outra parte, a
coordenação dos agentes ou unidades que
participam de um processo de produção é
regulada por um procedimento centralizado se
apoiando sobre a autoridade hierárquica do grupo
ao qual pertence esses parceiros. A desvantagem
de uma tal fórmula reside na falta de jogo
concorrencial sobre os preços e no excesso de
burocracia.
Em resumo, os
relatórios supracitados apresentam a tendência
de destacar, em termos de efeitos das
infra-estruturas e serviços de
telecomunicações sobre nossas estruturas
industriais, a descentralização das relações
de produção e um retorno ao mercado puro como
ferramenta de regulação dessas relações. Esta
tese, bastante interessante e defendida por
numerosos economistas (Porter e Millar, 1985),
parece contudo ser confrontada com oposições
bem radicais, tanto sobre o plano teórico como
de um ponto de vista empírico. De um ponto de
vista teórico, o trabalho desenvolvido por
Antonelli (1992) tende a mostrar que as
tecnologias da comunicação, longe de favorecer
um retorno ao mercado puro, parecem ao contrário
favorecer um retorno ao modelo hierárquico, pois
os grandes grupos devem ser mais aptos do que o
mercado para implantar redes eficazes de
informação, pelas seguintes razões: do fato de
suas capacidades de mobilizar os recursos
financeiros e técnicos necessários; do fato da
pré-existência de comunidades homogêneas e
estáveis de parceiros tendo hábitos e rotinas
de comunicação e de tratamento da informação;
do fato da presença de uma unidade no seio
dessas comunidades, unidade expressa em termos de
equipamentos técnicos e de normas de
apresentação da informação.
Outros autores
destacam, ainda, que uma transformação da
estrutura hierárquica clássica das empresas vem
ocorrendo de maneira freqüente. A unidade
jurídica do grupo parece dar lugar a uma unidade
telemática, através da formação de redes de
empresas compostas de um pivô decisional e de
unidades periféricas organizadas em centros de
lucro autônomos, cujo monitoramento e
coordenação podem se apoiar em ferramentas mais
eficientes por intermédio da rede.
Esse novo modelo
de organização das relações de produção,
que os anglo-saxões denominam Hub and Spokes,
apresenta a vantagem de uma maior flexibilidade -
a manutenção de um parceiro na rede está
submetido a seus resultados - e de uma
diminuição dos riscos ligados à concentração
de pessoal e de capitais no seio de um mesmo
grupo. Diferentes estudos empíricos tendem a
mostrar que um tal modelo, tocado pelas
facilidades oferecidas pelas telecomunicações,
está sendo utilizado em vários setores de
atividades tais como as realizadas pelos grandes
distribuidores e pelo setor automotivo. Caso esta
tendência se confirme, poder-se-ia formular a
seguinte questão. Ao nível das firmas que
desempenham um papel periférico, torna-se
necessário destacar a análise das condições
de entrada, da manutenção e da saída da rede.
Quais são as condições em termos da
flexibilidade da organização do trabalho, da
repartição dos riscos, do investimento
tecnológico, etc. necessários à participação
dessas firmas nas novas redes que estão sendo
implementadas? Sem um esclarecimento e uma
regulação eventual da gestão dessas
condições, essas novas formas de relação da
produção baseadas na flexibilidade e na
repartição dos riscos poderiam significar para
as empresas periféricas uma fragilização de
sua posição econômica.
3. CUSTOS
IRREVERSÍVEIS, O MODELO DA FIRMA EM
DESEQUILÍBRIO E
A VIABILIDADE DE UM
PROCESSO DE MUDANÇA
3.1. Custos
Irreversíveis
Existem duas
categorias de custos engendradas pela entrada num
mercado; a saber, os custos que podem ser
irreversíveis e/ou irrecuperáveis (sunk
costs), ou não: no primeiro caso, isso
significa que a saída da firma de um setor não
pode se efetuar sem perda de capital superior aos
custos de uso e manutenção do capital. Se as
condições de saída tornam-se difíceis, toda
entrada pode portanto ser desencorajada: trata-se
aqui de uma espécie de barreira à saída que
reduz a atratividade do setor.
Os custos
irrecuperáveis estão no coração das
estratégias das firmas, não só porque eles se
constituem numa dificuldade essencial, mas
também porque eles influenciam de maneira
decisiva a delimitação das fronteiras de
atividade das firmas. Estes custos são, com
efeito, percebidos como uma barreira à entrada.
3.2. O Modelo da Firma
em Desequilíbrio
Segundo M.
Amendola e J. L. Gaffard (1990), os custos
irrecuperáveis estão sempre associados com
aprendizagem e, então, se constituem na
expressão mais adequada de representação do
processo em desequilíbrio. Nesse sentido, a
tarefa da firma consiste principalmente em
organizar diferentes relações cooperativas
através do tempo, de modo que seja capaz de
dispor do montante necessário de recursos
financeiros, no momento certo, para produzir
aprendizagem em níveis satisfatórios. Assim,
diferentes formas de organização serão
testadas (sistema de coordenação e incentivos)
em termos da performance de determinadas
variáveis (remunerações, aprendizagem...),
tomando por base a viabilidade do processo de
mudança ao invés de algum tipo de processo de
otimização usualmente empregado na teoria
convencional.
Um processo
elementar de produção j pode ser
definido da seguinte maneira:
Aj
= (AC AU) j =
1,2,...,m bj = (bn+1,...,bn+N)
(1)
ou seja, por
intermédio de uma matriz de inputs A,
apresentando uma partição em duas sub-matrizes
AC = (aCh,k) e AU
= (aUh,k), cujos
elementos representam, respectivamente, as
quantidades de diferentes tipos de trabalho (h =
1,2,...,s) requeridas pelo processo elementar em
diversos períodos da fase de construção (K =
1,2,...,n) e da fase de utilização (K =
n+1,...,n+N); e um vetor de output final b
cujos elementos se referem a quantidades de
produto final obtidas em diversos períodos da
fase de utilização. Em geral, podemos escrever
a seguinte função de custo:
Ct=
C[xCjt,xUjt,nj(t
),Nj(t )] (2).
Na qual x
representa o número de processos elementares de
produção, nas fases de construção e
utilização, no período t (representado, assim,
a intensidade do processo de produção), e t
reflete a estrutura etária da capacidade
produtiva (levando, também, em consideração
mudanças na amplitude das fases do processo
elementar) e por conseqüência o perfil temporal
dos custos de produção. Podemos escrever a
seguinte função de receita:
Rt
= R[xUjt, Nj(t
)] (3),
onde se mostra que
as receitas acontecem somente durante a fase de
utilização.
Em equilíbrio,
torna-se possível uma representação
sincronizada da produção, onde custos e outputs
em cada período (ou sobre uma sucessão de
períodos tomados como um todo) se sobrepõe de
tal maneira que as expressões (2) e (3) podem
ser escritas através das seguintes maneiras
usuais:
C =
C(xUj) (2a) e R = R(xUj)
(3a).
É, ao contrário,
fora do equilíbrio, quando a estrutura etária
da capacidade produtiva se modifica (porque
modificações da proporção entre os "xjs"
são o resultado de variações na taxa de
crescimento ou da introdução de um novo tipo de
produção, mesmo se isso implica ou não uma
modificação dos comprimentos das fases de
construção e utilização, n e/ou N,
respectivamente), que as inusitadas
especificações das funções de custos e
receitas apresentadas nas formas (2) e (3) se
revestem de uma significação especial e os
custos irrecuperáveis emergem. Isto toma forma
de uma defasagem entre os perfis temporais de
receitas e despesas, oriunda de uma distorção
da capacidade produtiva.
A aparição de
uma restrição de financiamento (custos não
recuperados pela produção corrente, exigido em
conseqüência recursos financeiros adicionais)
se constitui no resultado imediato do rompimento
da configuração de equilíbrio. A isto se soma
uma restrição de recursos humanos - que
provavelmente emergirá toda vez que processos
inovadores de produção forem empreendidos, fato
que exigirá a consideração de novos problemas
produtivos que as competências existentes na
firma dificilmente poderão resolver - que pode
ser mais forte do que a restrição financeira e,
nesse caso, interagir com ela. É na luz dessa
interação - que é o determinante principal do
processo de aprendizagem e também da relação
entre os perfis temporais de receitas e despesas
- que a viabilidade do processo de mudança deve
ser vista e a atividade organizacional da firma
que empreende tal mudança deve ser direcionada.
3.3. A firma e a
Viabilidade de um Processo de Mudança: algumas
conjecturas
A atividade da
firma que organiza um processo de mudança
apresenta três aspectos principais: as
relações estabelecidas 1) com os empregados, 2)
com os recursos financeiros externos (empréstimo
bancário, bolsa de valores, bônus...), e 3) com
outras firmas.
Por falta de
espaço, somente serão apresentadas a seguir as
relações estabelecidas com os empregados.
3.3.1 Mercados de
Trabalho
Tal aspecto se
depara com o seguinte problema: como as
remunerações devem ser ajustadas através do
tempo, focalizando a questão "mercados de
trabalho estruturado versus mercados
desestruturados ?"
Registre-se que, a
grosso modo, os mercados de trabalho
desestruturados são caracterizados por
contratações de mercado spot (mercadoria
para ser vendida à vista), ao passo que os
mercados estruturados são aqueles nos quais um
grande número de restrições institucionais se
apresenta. Podemos escrever: wh,t = wh(zt,
Rt-1) (4), onde zt é a
demanda (oferta) em excesso para o tipo de
trabalho h no período t. Mudanças
salariais determinadas por z são, assim,
a expressão de um mercado de trabalho
desestruturado, enquanto variações salariais
relacionadas com o fluxo de receitas internas R
refletem acordos de cooperação internos
como aqueles que, por exemplo, caracterizam o
esquema hierárquico de incentivos da firma
japonesa. Diferentes especificações de (4)
proporcionam considerações alternativas de
casos intermediários possíveis. Quando uma
restrição de financiamento prevalece, a
viabilidade de um processo de mudança não é,
realmente, afetada pela escolha de um ou outro
regime de mercado de trabalho.
Porém, quando uma
restrição de recursos humanos emerge mais
intensivamente do que aquela de recursos de
financiamento, como resultado de uma opção
inovadora, a situação muda de figura. De fato,
isso implica um excesso de demanda por algum tipo
de trabalho e, assim, os salários aumentam, se
eles são determinados pelo mercado de trabalho
desestruturado. Um fundo de salários mais
expressivo, dadas as disponibilidades financeiras
de recursos, significa uma restrição de
financiamento ainda maior que resulta em menores
fundos disponíveis para novos investimentos.
Isso modifica a
estrutura da capacidade produtiva e, em
conseqüência, a função de custos: os perfis
temporais de custos e receitas podem se alterar
conforme diversas especificações de suas
respectivas funções, com os custos
irrecuperáveis emergindo como expressão da
defasagem entre aqueles perfis. Uma restrição
financeira mais forte e menores investimentos,
por sua vez, implicam uma demanda mais fraca por
trabalho e, portanto, uma redução no fundo de
salários, fazendo com que os recursos
disponíveis para novos investimentos cresçam
novamente. Essas flutuações nos salários
então estimulam flutuações nos investimentos,
que resultam numa distorção mais forte da
capacidade produtiva e numa defasagem ainda maior
entre os perfis temporais de receitas e despesas.
Custos irrecuperáveis mais elevados e um
processo de aprendizagem menos regular
comprometeriam consideravelmente a viabilidade do
processo de mudança.
Quando, ao
contrário, os salários não flutuam em resposta
aos excessos de demanda (ou oferta) de trabalho,
mas sim estão ligados ao crescimento das
receitas da firma, o fundo de salários poderia
crescer da mesma forma que os recursos
financeiros internos. Então, também, a
quantidade daqueles recursos disponíveis para
novos investimentos se elevaria segundo a mesma
taxa de crescimento das receitas internas, e não
haveria flutuações consideráveis nos
investimentos, nem distorções importantes da
capacidade produtiva. A divergência entre os
perfis temporais de receitas e despesas seria
gradualmente reduzida, também, como resultado de
um processo de aprendizagem mais regular.
Custos irrecuperáveis reduzidos e menor
dependência de recursos financeiros externos
favorecem a viabilidade do processo de mudança.
4. CONCLUSÃO
Tais
considerações por si só revelam a
consistência das predições teóricas exibidas
neste artigo, especialmente a existência dos
custos irrecuperáveis, que são as principais
restrições intertemporais a que as empresas
industriais estão submetidas durante o
estabelecimento de suas estratégias, e também
pelo fato de que a empresa não está jamais em
situação de eficácia tecnológica mas, ao
contrário, sempre em situação de aprendizagem.
O jogo dessas estratégias consiste na capacidade
de criar novos produtos e novos mercados, isto
é, a eficácia tecnológica no tempo: custos
irrecuperáveis mais elevados e um processo de
aprendizagem menos regular comprometeriam
consideravelmente a viabilidade do processo de
mudança; custos irrecuperáveis reduzidos e
menor dependência de recursos financeiros
externos favorecem a viabilidade do processo de
mudança.
No que concerne
aos impactos esperados da Sociedade da
Informação sobre a organização das empresas,
pode-se prever uma aceleração da fragmentação
dos grandes grupos industriais em favor de uma
organização baseada sobre o modelo Hub and
Spokes. A fim de se precaver contra os
possíveis efeitos perversos desse modo de
organização (notadamente o enfraquecimento das
PME), será conveniente desenvolver pesquisas
adicionais tanto sobre o papel desempenhado pelas
empresas pivôs como por aquele desempenhado
pelas empresas periféricas.
Torna-se
imprescindível a utilização de uma abordagem
dinâmica para o planejamento estratégico dos
sistemas de produção, definida como a análise
dos processos de ruptura e de mudança. Uma tal
análise requer a introdução de um conceito de
firma atuando como criadora de tecnologia, isto
é, como organização suscetível de imaginar e
executar novas opções produtivas - o conceito
de flexibilidade de iniciativa.
O conceito de
flexibilidade de iniciativa de J. L. Gaffard
(1990) permite salientar que a função
primordial de uma empresa não somente consiste
em (re)alocar determinados recursos, mas
sobretudo criá-los de uma maneira inédita;
nessa perspectiva, a tecnologia é
obrigatoriamente um fator chave para a
sobrevivência das firmas: o problema que é
colocado diante das empresas consiste menos,
portanto, em escolher entre diversas
combinações produtivas preexistentes oferecidas
pelo exterior, do que implantar procedimentos que
permitam a criação de novas oportunidades e a
exploração de um conjunto de alternativas
possíveis, com o auxilio de recursos
específicos.
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