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Percepção de Sucesso e o Grau de
Sofisticação de Sistemas Operacionais e
Gerenciais em Parcerias com Prestadores de
Serviço Logístico no Brasil
Peter
Fernandes Wanke
Mestre
em Engenharia de Produção
Pesquisador
da COPPE/UFRJ - Centro de Estudos em Logística
Abstract
This article presents main conclusions
about success perception within carrier-shipper
partnerships in Brazil. These conclusions are
based upon four case studies developed during
September to October, 1997. In this way, we
explain how success perception is affected by the
level of sofistication of operational e
managerial systems, as well as the main external
factors influencing this level of sofistication.
We also present a conceptual framework to
evaluate the sofistication level of a sinlge
shipper-carrier partnership, besides the
definitions of managerial success and operational
success in this kind of relationship.
Resumo
Este
artigo apresenta algumas conclusões acerca da
percepção de sucesso em parcerias entre
embarcadores e prestadores de serviços
logísticos no Brasil, com base em quatro estudos
de caso conduzidos ao longo dos meses de setembro
e outubro de 1997. Neste sentido, são
apresentados indicativos de como esta percepção
é influenciada pelo nível de sofisticação dos
sistemas operacionais e gerenciais da parceria,
bem como os principais fatores extrínsecos ao
relacionamento que determinam este nível de
sofisticação. Para isto, são apresentadas uma
metodologia para avaliação do nível de
sofisticação, bem como definidos os conceitos
de sucesso gerencial e operacional na parceria
logística
Introdução
As parcerias logísticas são relacionamentos
cooperativos estabelecidos entre embarcadores e
prestadores de serviço logístico. De maneira
geral, desenvolvem-se parcerias logísticas para
obtenção dos benefícios associados à
integração vertical (p.ex., maior controle e
previsibilidade da distribuição física), sem
no entanto incorrer nos custos associados à uma
estrutura corporativa verticalizada (p.ex.,
custos associados a manutenção de um aparelho
burocrático de larga escala), evitando ainda a
perda de flexibilidade estratégica, fato comum
em organizações verticalmente integradas (HAYES
et al., 1984). Neste sentido, diversos
autores, como DEVLIN et al. (1988),
apresentam as relações de parceria como
alternativa à verticalização da distribuição
física ou à contratação de prestadores de
serviço logístico via livre mercado. Isto
porque as parcerias logísticas têm se mostrado
soluções mais eficientes e flexíveis em
diversas situações concretas, sobretudo quando
são levados em consideração os custos
incorridos para o cumprimento de um determinado
nível de serviço de entrega. Apesar de membros
secundários do canal, os prestadores de
serviços logísticos vêm desempenhando um
papel-chave para que os embarcadores (fabricantes
e fornecedores) ofereçam a seus clientes não
apenas o produto em si, mas também outras
atividades ou serviços de valor agregado.
Este artigo apresenta as conclusões obtidas com
relação ao processo de elaboração da
percepção do sucesso em quatro parcerias
logísticas no Brasil, além da determinação de
como o nível de sofisticação destas parcerias
afeta a percepção de sucesso. Os casos foram
selecionados com base em embarcadores e
prestadores de serviço logístico com
reputação e imagem reconhecidas em seus
respectivos mercados. Destes quatro estudos de
caso, dois prestadores de serviço logístico
têm sede em São Paulo, um no Rio de Janeiro e
outro no Paraná. As entrevistas dos estudos de
caso foram gravadas e conduzidas pessoalmente ao
longo dos meses de setembro e outubro de 1997,
contando com auxílio de um roteiro de
entrevistas desenvolvido especificamente para tal
finalidade. Os entrevistados são atualmente
responsáveis pela distribuição física nos
fabricantes (a totalidade ocupava cargos de
gerência) e nos representantes dos prestadores
de serviço logístico.
2. Referencial
Teórico: A Questão do Sucesso na Parceria
Logística
Trataremos
nesta seção de duas questões básicas na
bibliografia existente sobre parcerias. Apesar de
interrelacionadas entre si, estas questões
apresentam-se ainda pouco estruturadas e
analisadas com maior profundidade na literatura.
São elas:
- Qual a
natureza do sucesso num relacionamento de
parceria, ou seja, o que é uma parceria
de sucesso?
- Dado que foi
entendido e definido sucesso na parceria,
como avaliar seu nível de sucesso?
O sucesso na
parceria passa necessariamente pela colaboração
conjunta e não mais por ações pontuais, as
quais tradicionalmente eram a base de todas as
relações comerciais (KANTER, 1994). Segundo
BLEEKE et al. (1995), para que a
colaboração conjunta seja a mais produtiva
possível, é necessário que as empresas
envolvidas possuam capacitações complementares.
Em outras palavras, o potencial para ocorrência
de conflitos será tão maior quanto menor for o
grau de complementaridade entre os parceiros
(p.ex. atuação geográfica, produtos e
serviços oferecidos etc). Assim como BLEEKE et
al. (1995), KANTER (1994) concorda que as
parcerias entre empresas de um mesmo canal
apresentam maiores chances de sucesso que as
parcerias (alianças) entre empresas de um mesmo
setor que atuam em canais logísticos distintos.
As alianças são relacionamentos mais instáveis
porque são formadas por organizações que
competem diretamente entre si, possuindo as
mesmas capacitações chave, atuando nos mesmos
mercados geográficos e apresentando as mesmas
habilidades funcionais.
A avaliação do nível de sucesso numa parceria
pode ser decomposta em várias dimensões, que
vão além da simples avaliação de resultados
operacionais ou financeiros. A parceria, pela
natureza de sua definição, é uma proposta de
negócios de longo prazo e, como tal envolve,
tanto fatores tangíveis (explícitos ou
facilmente mensuráveis) quanto fatores
intangíveis (implícitos ou de difícil
mensuração). Os fatores tangíveis incluem, por
exemplo, parcela de mercado, custos de
maneira geral, retorno sobre o investimento, giro
de estoques ou nível de serviço. Já os fatores
intangíveis dizem respeito, por exemplo, às
condições para o acesso a novos canais de
distribuição, ganho de reputação, novos
clientes ou oportunidades de negócio,
associação à imagem do parceiro, etc. Numa
escala mais ampla, ambos os fatores contribuem
para a formação de uma visão conjunta sobre o
que seria uma relação de parceria bem sucedida.
Foram identificadas duas linhas de periódicos
que exploram como estes fatores interagem entre
si, determinando o nível de sucesso numa
parceria. A primeira engloba publicações
focadas em estratégia empresarial, como, por
exemplo, Harvard Business Review, Sloan
Management Review, Journal of General Management,
Journal of Business Strategy etc. A segunda
reúne publicações voltadas à pesquisa de
marketing e logística, mais precisamente, ao
estudo do comportamento dos atores envolvidos
(indivíduos, organizações, etc) numa relação
comercial: Journal of Marketing Research,
European Journal of Marketing Research, Journal
of Retailing, International Journal of
Physical Distribution & Logistics Management,
International Journal of Purchasing &
Materials Management, Journal of Business
Logistics etc.
De modo geral, o grupo das publicações em
estratégia empresarial limita o estudo sobre o
sucesso da parceria à perspectiva tangível,
atribuindo-lhe maior relevância e reservando um
papel secundário aos fatores intangíveis de
sucesso. Por exemplo, segundo BLEEKE et al.
(1995) "uma parceria é bem sucedida se
ambas as partes alcançarem seus objetivos
estratégicos e obtiverem um retorno igual ou
superior ao seu custo de capital". KANTER
(1994) afirma que "o valor presente líquido
(VPL) de um projeto de parceria deve
ser medido comparativamente ao VPL de outros
processos da empresa". Em outras palavras, a
parceria de sucesso seria aquela cujo VPL é
superior ao dos outros processos da
organização. Esta escala comparativa limitaria
de certa forma a abrangência das mudanças que
uma organização estaria disposta a se submeter
para se adequar a uma parceria, visto que este
processo de mudança, conforme RAMSAY (1996),
imobiliza recursos que poderiam ser alocados a
outros atividades que trariam retorno mais
rápido.
Mesmo que os níveis de serviço no cliente final
ou da taxa de retorno sobre determinado
investimento sejam fáceis de ser mensuradas, os
fatores tangíveis não possuem poder suficiente
para explicar totalmente a avaliação que é
feita do sucesso de uma parceria. Isto ocorre por
dois motivos básicos. Em primeiro lugar, é
extremamente complexo separar os resultados (ou o
retorno) decorrentes única e exclusivamente do
esforço organizacional individual daqueles
decorrentes do esforço conjunto. A dificuldade
em isolar a contribuição de cada parceiro para
o progresso da parceira faz com que sua
avaliação de sucesso transcenda cálculos
feitos a priori ou a posteriori com
relação ao retorno financeiro de cada parte
envolvida. Em segundo lugar, a dinâmica relativa
a valores e percepções como confiança,
cooperação, e comprometimento, pode influenciar
positivamente a execução de diversas tarefas em
conjunto e seus resultados tangíveis, uma vez
que cria condições favoráveis ao planejamento
conjunto, ao compartilhamento de informações, e
a maneira pela qual um parceiro percebe a
contribuição relativa do outro parceiro.
A linha de publicações de marketing e
logística aborda em maior profundidade a
problemática exposta nos dois parágrafos
anteriores. São vários os trabalhos que
relacionam o sucesso na parceria com um leque de
diversos fatores tangíveis e intangíveis.
Apesar dos estudos pioneiros de ANDERSON et
al. (1984,1990) e FRAZIER et al.
(1988); BUCKLIN et al. (1993) abordaram de
modo mais conciso e melhor estruturado a questão
da avaliação do nível de sucesso numa parceria
e seus fatores determinantes. Dado que numa
parceria o desempenho conjunto é o
elemento-chave, os autores propuseram uma medida
de benefício conjunto como indicador de sucesso,
a qual chamaram de sucesso gerencial percebido.
Os autores definem sucesso gerencial percebido
como "a extensão do comprometimento mútuo
e de avaliações positivas com relação à
produtividade e demais benefícios (tangíveis ou
intangíveis) do relacionamento". Esta
definição de sucesso gerencial percebido é
bastante similar à definição de satisfação
na parceria proposta por ANDERSON et al.
(1984), isto é, "o estado de percepção
positiva resultante da avaliação de todos os
aspectos envolvidos no relacionamento de parceria
entre empresas". A figura 1 ilustra os
principais determinantes do sucesso gerencial
percebido numa parceria. Os sinais positivos (+)
indicam uma relação de crescimento direta
(p.ex., quanto maior for a afinidade do
relacionamento, maior será o sucesso gerencial
percebido). Já os sinais negativos (-) indicam
uma relação de crescimento inversa (p.ex.,
quanto maiores forem os custos de transação,
menor será o sucesso gerencial percebido). Dois
sinais simultaneamente (é o caso do (+) ou (-))
indicam que a relação de crescimento das
variáveis pode ser direta ou inversa, dependendo
da situação. Por exemplo, o impacto da
formalização contratual sobre a afinidade da
parceria não pode ser determinado a priori,
e vai depender do estilo de contrato adotado.
Figura
1 - Fatores determinantes do sucesso
gerencial percebido
|
A formalização contratual não deveria
ser excessiva, permitindo que além da troca
rotineira de informações operacionais, a
parceria seja capaz de desenvolver outros canais
de comunicação para tratar de questões
gerenciais ou até mesmo estratégicas (BUZZEL et
al., 1993; DEVLIN et al., 1988;
KANTER, 1994). Conforme verificado por OUCHI
(1980), sólidas relações comerciais entre
empresas fundamentam-se no nível de envolvimento
e participação conjuntos, e quanto maior for
este nível, mais as empresas tenderão a assumir
uma postura de cobrança. A formalização
excessiva pode inibir a proatividade com
relação a esta postura de cobrar do parceiro
maior empenho, engessando a relação comercial
com o passar do tempo.
A seguir, a descrição dos três fatores
determinantes do sucesso gerencial percebido da
parceria.
- Indicadores
de Performance do Negócio: é um
conjunto tangível de indicadores de
performance da parceria. Este conjunto
inclui indicadores financeiros e de
posicionamento de mercado como ROI, market-share,
pay-off, investimentos alocados,
custos incorridos, etc.
- Afinidade: É
reflexo direto do grau de semelhança
presente nas metas, objetivos, estilo
gerencial, filosofia operacional e na
cultura organizacional. SONNENBERG
(1992), por exemplo, aponta a agilidade
no processo decisório de ambas
organizações como importante fator para
o fortalecimento da relação. A
afinidade é influenciada positivamente
pela existência de uma história
pregressa de relações comerciais
estáveis.
- Custos de
Transação: são relevantes na medida
que afetam o equilíbrio de poder entre
as empresas (estabilidade da parceria).
Por exemplo, segundo WILLIAMSON (1975), a
maior necessidade por investimentos em
ativos específicos por uma das partes
num ambiente de elevada incerteza
traduz-se numa expectativa da outra parte
para o aumento do volume (freqüência)
de transação. O desequilíbrio de poder
surge no momento em que estas
expectativas são frustradas e a parceria
deixa de ser o posicionamento mais
adequado para esta relação comercial
(DWYER et al., 1981). Como na
prática não existem parcerias ideais,
ou seja, regidas plenamente pela
confiança existente entre ambas as
partes, a parte mais fraca precisará
recorrer a salvaguardas contratuais
(maior formalização contratual) para
limitar sua vulnerabilidade (FRAZIER et
al., 1988). Desta forma, temos o
aumento nos custos de transação como
fator desestabilizador do relacionamento
e com impactos diretos no sucesso
gerencial percebido.
Percebe-se que o
conceito de sucesso gerencial percebido abrange a
questão de como as organizações encaram o
sucesso na parceria. A dificuldade de quantificar
o montante de recursos alocados individualmente,
paralelamente a outros aspectos como o
desenvolvimento de canais de comunicação e da
afinidade entre as partes, torna necessário
ponderar os diversos fatores tangíveis e
intangíveis relevantes à elaboração de uma
perspectiva de sucesso na parceria. Também fica
evidente que a formação de parcerias
logísticas fundamenta-se na integração como
forma de obter reduções de custos através da
especialização de cada parceiro, do
planejamento conjunto de tarefas via troca de
informações, da melhoria no serviço ao
cliente, da redução nos níveis de risco;
enfim, ganhos de vantagem competitiva no mercado
(BOWERSOX et al., 1992). A integração na
parceria logística requer, pelo seu caráter
particular, a consecução de várias atividades
específicas a nível operacional, conforme
proposto por GENTRY (1996). Daí surge a
necessidade, característica nas parcerias
logísticas, de serem definidas formas para
avaliação de seu sucesso operacional. Em outras
palavras, a avaliação do sucesso operacional de
uma parceria é fundamentada na avaliação
contínua do desempenho de atividades quotidianas
como, por exemplo, a troca de informações, a
programação conjunta, a definição de padrões
de operação e mecanismos de controle etc.
Por sua vez, a avaliação da performance ou grau
de eficiência com que são executadas estas
atividades pode ser inferida através da
avaliação da qualidade de serviço prestado ao
cliente. Trocar informações, planejar em
conjunto, definir procedimentos padrão de
operação, nada mais são do que meios usados
para tangibilizar ou traduzir as expectativas do
cliente em especificações de qualidade de
serviço logístico. Percebemos, então, que numa
parceria logística o sucesso ocorre
simultaneamente em dois níveis dependentes entre
si: o operacional e o gerencial. O sucesso
operacional depende diretamente do gap
entre a qualidade do serviço prestado na
percepção do fabricante e sua expectativa com
relação à qualidade do mesmo, conforme
proposto por PARASURAMAN et al. (1988).
Desta forma, quanto menor este gap, maior
será o sucesso operacional da prestação de
serviço e consequentemente maior o desejo do
cliente em dar continuidade ao relacionamento.
3. O Papel de Sistemas Operacionais e
Gerenciais e sua Relação com o Sucesso da
Parceria
Conforme visto nos parágrafos anteriores, a
implementação de uma parceria com prestadores
de serviço logístico passa necessariamente pelo
desenvolvimento de sistemas operacionais e
gerenciais, que viabilizam não apenas a troca de
informações operacionais, técnicas e
estratégicas, mas também as mudanças
necessárias nos processos existentes para sua
efetiva realização no dia a dia do
relacionamento.
O projeto dos sistemas operacionais, conforme
mostra a figura 2, apoia-se basicamente na
definição do binômio meta-método como base
para avaliação do gap entre a qualidade
de serviço efetivamente fornecida pelo prestador
de serviço logístico e qualidade de serviço
esperada pelo fabricante. Quanto menor este gap,
maior será o sucesso operacional.
Figura
2 - Componentes do projeto de sistemas
operacionais e sua relação com o
sucesso operacional
|
O projeto de sistemas gerenciais, por sua vez,
apoia-se na definição de três políticas
básicas para a gestão da parceria logística:
troca de informações, investimentos,
compartilhamento de riscos e benefícios. Estas
políticas são reguladas pelo nível de
formalização contratual do relacionamento entre
o prestador de serviço logístico e seu cliente.
A definição de uma política para troca de
informações acarreta impacto fundamentalmente
no grau de afinidade do relacionamento (HEIDE et
al., 1990) e nos indicadores de performance
do negócio, em função de uma maior
flexibilidade para o atendimento das exigências
do mercado e maior controle (rastreabilidade) na
distribuição física. Basicamente, esta
política estabelece as bases nas quais as
empresas compartilharão informações, definindo
não somente os níveis hierárquicos envolvidos
e quais informações serão compartilhadas, mas
também sua sistemática de troca (programação
e rotina) e seus sistemas (telefone, fax, EDI ou
e-mail). A política para troca de informações
também pode determinar os procedimentos a serem
seguidos em situações de emergência ou não
previstas inicialmente.
Já a política de investimentos (FRANKEL, 1995;
LAMBERT et al., 1996) deve refletir o grau
de envolvimento de cada empresa na aquisição e
operação de ativos específicos ou não e no
treinamento ou intercâmbio de recursos humanos,
estando fortemente amparada e complementada por
uma política para compartilhamento de riscos e
benefícios. Estas duas políticas afetam
diretamente os indicadores de performance do
negócio, que por sua vez determinam maior ou
menor necessidade para investimentos em ativos
específicos.
Como o poder de barganha do fabricante é
geralmente maior que o poder de barganha do
prestador de serviço logístico, sua por maiores
investimentos em ativos ou treinamento de
recursos humanos pode desequilibrar a parceria.
Neste sentido, o nível de formalização
contratual busca corrigir eventuais
desequilíbrios de poder entre as partes mediante
o estabelecimento de salvaguardas contratuais,
que estabelecem horizontes para renovação, bem
como detalham barreiras à saída, cláusulas de
exclusividade, incentivos financeiros etc
(BUCKLIN et al., 1993). A figura 3
ilustra esta relação.
Figura
3 - Relação entre o sucesso gerencial
percebido e as políticas componentes do
projeto de sistemas gerenciais
|
Temos então
que, quanto maior for a avaliação positiva das
três políticas básicas que compõem o projeto
do sistema gerencial de uma parceria, maior será
o sucesso gerencial percebido do
relacionamento de parceria.
4. Grau de
Sofisticação de Sistemas Operacionais e
Gerenciais
Na implementação de uma parceria logística, a
abrangência e a complexidade dos sistemas
operacionais e gerenciais são determinadas por
fatores ambientais (externos e internos)
específicos de cada caso, os quais podem atuar
como forças positivas ou negativas ao seu
desenvolvimento. Em virtude disso, LAMBERT et
al. (1996) afirmam que, conquanto muitas
parcerias apresentem alguns elementos e
características em comum, não há simplesmente
uma relação ideal de características relativas
aos sistemas gerenciais e operacionais que seja
adequada para todas as situações. Dado que cada
parceria possui seu próprio conjunto de
motivações iniciais, bem como facilitadores,
restrições e critérios de seleção; as
arquiteturas dos sistemas operacionais e
gerenciais vão variar caso a caso.
Desta forma, o autor classifica os componentes
dos sistemas gerenciais e operacionais da
parceria em três níveis de sofisticação. Por
exemplo, vemos conforme a tabela 1, que o projeto
dos sistemas operacionais da parceria é formado
por duas componentes principais: procedimentos
operacionais (método) e padrões de qualidade de
serviço (meta). Cada uma destas componentes
apresenta várias características, como por
exemplo, os padrões de qualidade de serviço,
que caracterizam-se pela estipulação dos
indicadores de desempenho e por sua abrangência.
Em parcerias pouco sofisticadas ou do tipo I, por
exemplo, os indicadores de desempenho são
determinados unilateralmente e não abrangem todo
o processo. Já em parcerias muito sofisticadas,
ou do tipo III, os indicadores de desempenho são
elaborados conjuntamente, focam no desempenho do
fabricante e do prestador de serviço, e abrangem
todo o processo.
O mesmo ocorre com o projeto dos sistemas
gerenciais, formado pelas componentes: troca de
informações, política para divisão de riscos
e benefícios, formalização contratual e
política de investimentos. Por exemplo, a
política de investimentos caracteriza-se em
investimentos em ativos específicos e em
pessoal. Parcerias logísticas pouco sofisticadas
(tipo I) apresentam pequeno ou nenhum
investimento em ativos específicos e treinamento
de pessoal. Já em parcerias muito sofisticadas
(tipo III) há aquisição conjunta de ativos de
alto valor e há forte intercâmbio e/ou
treinamento de pessoal.
De acordo com a tabela 1, é possível traçar um
perfil padrão para a parceria, se todos os seus
componentes gerenciais e operacionais pertencerem
ao tipo I, II ou III.
- Perfil
padrão de parceria logística do tipo I:
Neste caso o nível de integração
operacional e gerencial é pequeno. As
empresas se reconhecem como parceiras,
entretanto, coordenam e planejam
atividades de forma pouco abrangente. A
parceria está focada no curto prazo e
envolve apenas um departamento do
fabricante (geralmente sua gerência de
transporte ou distribuição física).
- Perfil
padrão de parceria logística do tipo
II: as empresas passam da
coordenação à integração de
atividades. Há uma perspectiva de longo
prazo para o relacionamento e vários
departamentos e funções do fabricante
estão envolvidos (transportes,
contabilidade, vendas, etc).
- Perfil
padrão de parceria logística do tipo
III: há um nível de integração
operacional e gerencial significativo, no
qual cada empresa percebe a outra como
uma extensão de sua unidade de negócio.
Não há prazo pré-definido para a
duração do relacionamento.
Tabela 1 - Tipos de parceria logística em
função da abrangência do projeto de sistemas
operacionais e do projeto de sistemas gerenciais
(adaptado de LAMBERT et al.,
1996)
|
|
TIPOS DE PARCERIA
LOGÍSTICA
|
|
|
I
|
II
|
III
|
PROJETO DE
SISTEMAS OPERACIONAIS |
CARACTERÍSTICAS
|
|
Estilo |
Ad hoc |
Programação
regular |
Sistemática |
|
Foco |
Atividade ou
tarefa |
Processo |
Parceria |
Procedimentos
Operacionais |
Formato |
Compartilhamento
do planejamento existente |
Atuação
conjunta |
Atuação
conjunta com envolvimento de todos os
níveis hierárquicos |
|
Flexibilidade |
O PSL apenas
pode fazer sugestões para mudança |
O PSL faz
modificações com consentimento prévio |
O PSL faz
modificações sem consentimento prévio |
Padrões de
Qualidade de Serviço |
Indicadores de
Desempenho |
Estipulados de
maneira independente |
Estipulados
conjuntamente e focam no desempenho do
PSL |
Estipulados
conjuntamente e focam no desempenho do
PSL e do fabricante |
|
Abrangência |
Baixa |
Média |
Alta |
PROJETO DE
SISTEMAS GERENCIAIS |
CARACTERÍSTICAS
|
|
Organização |
Informal |
Programação
regular |
Sistemática:
Manual ou Eletrônica |
Política para
Troca de Informações |
Fluxo |
Somente de
fabricante para o PSL |
Nos dois
sentidos, com predomínio do fabricante
para o PSL |
Nos dois
sentidos, balanceado do fabricante para o
PSL |
|
Sistema |
Individual |
Modificados para
a operação conjunta |
Desenvolvidos e
customizados para a operação conjunta |
Política para
Divisão de |
Comprometimento
para minimizar risco |
Baixo,
geralmente não há política formalizada
|
Médio |
Alto |
Riscos e
Benefícios |
Avaliação do
equilíbrio |
Por transação |
Anualmente |
Leva em
consideração passado e perspectivas
futuras |
Formalização |
Horizonte |
< 1 ano |
> 1 ano |
Sem prazo
pré-definido para término |
Contratual |
Abrangência |
Muito
específica |
Pouco
específica |
Apenas
estabelece as linhas gerais do
relacionamento |
Política de |
Ativos específicos
|
Há pequeno ou
nenhum investimento |
Aquisição
conjunta de ativos de baixo valor |
Aquisição
conjunta de ativos de alto valor |
Investimentos |
Normalmente,
as parcerias logísticas de sucesso apresentarão
as dimensões de seus sistemas operacionais
(planejamento e mecanismos de controle) e
gerenciais (políticas para troca de
informações, investimentos e compartilhamento
de riscos e benefícios) variando entre estes
três níveis. Dependendo do arranjo operacional
e gerencial adotado, a parceria pode ser
caracterizada por um maior ou menor grau de
sofisticação (cf. figura 4).
Figura
4 - Relação entre os possíveis
arranjos operacionais e gerenciais e o
grau de sofisticação da parceria
logística
|
Espera-se que a maior parte das parcerias
logísticas de sucesso apresentem componentes dos
sistemas operacionais e gerenciais dos tipos I e
II, enquanto que as parcerias do tipo III seriam
restritas a um pequeno número de casos
especiais, nos quais o prestador de serviço
logístico é realmente um elemento crítico para
o fabricante no longo prazo.
5. Fatores
Determinantes do Grau de Sofisticação dos
Sistemas Operacionais e Gerenciais
A tabela 2 contém
a classificação consolidada das parcerias
documentadas nos quatro estudos de caso
realizados por WANKE (1998). Esta classificação
foi elaborada de acordo com as características
de seus projetos de sistemas operacionais e
gerenciais vis a vis a tabela 2.
Tabela 2 - Classificação dos estudos de caso
em função de seus projetos de sistemas
operacionais e gerenciais
|
|
TIPO DE PARCERIA
LOGÍSTICA |
|
|
I
|
II
|
III
|
PROJETO DE
SISTEMAS OPERACIONAIS |
CARACTERÍSTICAS
|
|
Estilo |
|
2 3
|
1 4
|
Procedimentos |
Foco |
2 3
|
1 4
|
|
Operacionais |
Formato |
2 3
|
1 4
|
|
|
Flexibilidade |
|
2 4
|
1 3
|
Padrões de
Qualidade |
Indicadores de
Desempenho |
2 3
|
1 4
|
|
de Serviço |
Abrangência |
1 2 3
|
|
4
|
PROJETO DE
SISTEMAS GERENCIAIS |
CARACTERÍSTICAS
|
|
Organização |
|
|
1 2 3 4
|
Troca de
Informações |
Fluxo |
2 3
|
1 4
|
|
|
Sistema |
|
1 2 3 4
|
|
Política para
Divisão de |
Comprometimento
para minimizar risco |
|
2 3
|
1 4
|
Riscos e
Benefícios |
Avaliação do
equilíbrio |
1 2 3
|
4
|
|
Formalização |
Horizonte |
2 3
|
1 4
|
|
Contratual |
Abrangência |
1 4
|
2 3
|
|
Política de |
Ativos específicos
|
2
|
3
|
1 4
|
Investimentos |
Pessoal |
2 3
|
1 4
|
|
Legenda: 1
= primeiro estudo de caso / 2 = segundo estudo de
caso /3 = terceiro estudo de caso / 4 = quarto
estudo de caso
A tabela acima indica que o grau de
sofisticação do sistema gerencial e do sistema
operacional são dependentes entre si. Em outras
palavras, parcerias com sistemas operacionais
pouco (muito) sofisticados tendem a apresentar
sistemas gerenciais pouco (muito) sofisticados.
Especificamente, os quatro estudos de caso
apontam que o grau de sofisticação dos sistemas
operacionais e gerenciais de uma parceria com
prestadores de serviço logístico vai depender
da conjunção de quatro fatores básicos (cf.
figura 5):
- a
abrangência da operação, isto é, se a
operação é regional ou a nível
nacional;
- as
características do produto a ser
movimentado como, por exemplo:
atratividade ao roubo, perecibilidade,
fragilidade, peso, volume, valor
agregado;
- as
exigências com relação aos níveis de
serviço ao cliente;
- a
segmentação ou não da base de
clientes, tornando mais complexo o
atendimento de suas necessidades.
Figura
5 - Fatores que determinam o grau de
sofisticação da parceria
|
Quanto mais intensos forem estes fatores, maior
parece ser a probabilidade de serem estruturados
sistemas operacionais sofisticados, que por sua
vez demandam sistemas gerenciais sofisticados.
Sistemas operacionais sofisticados e articulados
com sistemas de informação são as bases para
um melhor desempenho na distribuição física.
Ao se garantir a estabilidade e consistência dos
indicadores de desempenho operacional, o
fabricante e o prestador de serviço logístico
podem direcionar sua atenção para questões
gerenciais. Isto porque sistemas operacionais
sofisticados geralmente são estruturados a
partir de vultosos investimentos, levando à
formulação das três políticas básicas do
sistema gerencial: troca de informações,
investimentos em ativos específicos e divisão
de riscos e benefícios que regulem a parceria.
Ao contrário, em sistemas operacionais mais
simples, geralmente não existem sistemas para
remediação de falhas, rastreamento de veículos
ou gerenciamento de risco. Operações mais
simples praticamente não necessitam de
políticas reguladoras de investimentos e para
compartilhamento de riscos e benefícios. Daí o
fato dos sistemas gerenciais serem menos
sofisticados nestas situações.
Devemos ressaltar, entretanto, que sistemas
operacionais simples não implicam
necessariamente ineficiência e ineficácia,
apenas contam com um aparato menor de
procedimentos e tecnologias tanto para o dia a
dia, quanto para lidar com situações
emergenciais.
6. O
Impacto da Sofisticação dos Sistemas
Operacionais e Gerenciais sobre a Percepção de
Sucesso da Parceria Logística
Conforme visto nestes quatro estudos de caso,
a sofisticação dos sistemas operacionais de uma
parceria geralmente tem como contrapartida a
sofisticação de seus sistemas gerenciais.
Operações sofisticadas são intensivas em
capital e demandam consideráveis investimentos.
Por sua vez, consideráveis investimentos
requerem não apenas uma única política que os
regule, mas também o apoio de uma política para
compartilhamento de riscos e benefícios,
tornando o gerenciamento da parceria mais
sofisticado.
Desta forma, quando a sofisticação operacional
é elevada, estas políticas gerenciais são
articuladas e coordenadas por contrato de
caráter específico, onde é praticamente
estabelecido que o cumprimento de suas metas
balizará o sucesso da parceria. Nas parcerias
mais sofisticadas (primeiro e quarto casos) o
contrato firma os parâmetros a partir dos quais
será avaliado seu sucesso, do ponto de vista
gerencial, assumindo um papel mais administrativo
que estratégico, conforme proposto por LAMBERT et
al. (1996).
Isto não implica necessariamente que os
contratos não detalhem o acordo operacional da
parceria, definindo, por exemplo,
responsabilidades ou metas para indicadores de
desempenho e prevendo cláusulas de escape. Em
parcerias sofisticadas o detalhamento contratual
da operação faz com que ambas as partes
"se sintam mais protegidas" para
formalizar questões com investimentos futuros vis
a vis um dado nível de movimentação ou
utilização de capacidade. Vemos que mesmo
assim, a questão do sucesso permanece atrelada a
sua perspectiva gerencial.
Por outro lado, em parcerias menos sofisticadas,
o sucesso será avaliado sobretudo pela
perspectiva operacional de atendimento aos
indicadores de desempenho estipulados. Isto
porque sistemas operacionais simples, conforme
verificados no segundo e terceiro casos, apesar
de não demandarem considerável aporte de
capital e consequentemente sistemas gerenciais
sofisticados, são mais vulneráveis a falhas.
Nestas situações a parceria é regida por
contratos informais ou "morais", os
quais dependem da palavra das pessoas, da
tecnologia envolvida e sobretudo do desempenho
operacional verificado no dia-a-dia. Percebe-se
que o sucesso é, nestes casos, influenciado
fortemente pela perspectiva operacional.
7. Conclusões
Tanto o sucesso operacional quanto o sucesso
gerencial são condições necessárias, porém
não suficientes isoladamente, para se verificar
a manutenção de uma parceria logística (cf.
figura 4). É preciso que haja, por parte dos
embarcadores, a percepção estratégica da
distribuição física, através da
consideração de seus prestadores de serviço
logístico como extensão de suas próprias
unidades de negócio. Esta visão engloba não
somente a própria rede logística do fabricante,
mas também seu posicionamento na cadeia
logística perante seus clientes ou fornecedores
(imagem, relacionamento, etc).
A ocorrência simultânea do sucesso operacional
e do sucesso gerencial é favorecida por um
contexto de cooperação e comprometimento no
longo prazo. Assim, conforme proposto por ARKADER
(1997), ao estudar as relações de fornecimento
enxuto na indústria automobilística brasileira,
a percepção estratégica do papel dos
fornecedores é fundamental para a consecução
da parceria, atuando como elemento complementar
à integração operacional e gerencial. Na
parceria logística, esta integração
estratégica favorece o projeto conjunto da
operação de distribuição física, ao passo
que sedimenta os parâmetros que vão balizar seu
sucesso gerencial percebido. Devemos ressaltar,
entretanto, que a percepção estratégica de um
prestador de serviço logístico como extensão
da estrutura do fabricante não implica, a
priori, elevado grau de afinidade,
confiança, equilíbrio de poder e bons
indicadores de desempenho. Todas estas dimensões
serão verificadas ou não no decorrer do
relacionamento, e dependerão não só da
integração operacional (dia-a-dia), como
também dos sistemas para troca de informações
e das políticas de investimentos e para
compartilhamento de riscos e benefícios
estabelecidas ao longo do relacionamento.
BURNES et al. (1997) corroboram esta
perspectiva, afirmando que "numa parceria as
empresas podem colaborar simultaneamente em
diferentes níveis, que vão do operacional ao
estratégico". Ao nível operacional, a
integração de atividades e processos é
pré-condição para o aumento da eficiência na
relação comercial. Já no nível gerencial, uma
característica que fortalece a integração é a
existência de uma estrutura clara para
determinação de custos, preços e lucros para
ambas as partes (política de compartilhamento de
riscos e benefícios). Por fim, ao nível
estratégico, a integração é verificada com a
presença dos seguintes elementos: (a)
comprometimento no longo prazo; (b) postura
proativa de ambas as empresas; (c) filosofia de
que a parceria deve ser boa para ambas as
empresas. O autor também ressalta que, apesar da
importância da integração estratégica como
elemento para consolidação da parceria e
minimização de conflitos e desconfiança, a
parceria logística é desenvolvida no dia-a-dia
(integração operacional) e pela criação de
mecanismos que conciliem a operação com a
estratégia da parceria (integração gerencial).
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