A
Aprendizagem e a Inovação Tecnológica na
Pequena Empresa Industrial de Minas Gerais
Professora
Dra. Marta Araújo Tavares Ferreira
Univ.
Federal de Minas Gerais - Escola de
Biblioteconomia / Dep. de Organ. e Tratamento da
Informação - Cx. P. 1606 - CEP 31.130-970 -
Belo Horizonte - MG - Fax: (031) 499-5226;
e-mail: maraujo@eb.ufmg.br
Engenheiro
Ricardo de Minas Zuim
Abstract
Nowadays, it is
considered that small firms play an essential
role in the dynamics of national economic
systems, mainly in what refers to employment and
technological innovation. However, very little is
known about how brazillian small firms create and
"learn" technology, as well as how they
conduct their innovation process. This paper
presents the main results of a research project
conducted in the state of Minas Gerais, Brazil,
whose objectives were to explore this domain of
entrepreneurial activity and to detect the
obstacles these small firms have to cope with in
order to innovate, learn and survive. Knowledge
about this reality is an essential input to the
elaboration of technological policies that aim to
support entrepreneurship.
KEY WORDS
Industrial Innovation,
Technological Learning, Technology Transfer
1. CARACTERIZAÇÃO DAS
EMPRESAS ESTUDADAS E METODOLOGIA
Na primeira fase
da pesquisa aqui relatada, foram contatados
vários organismos que atuam no campo do apoio à
pequena empresa no estado de Minas Gerais, a fim
de selecionarmos pequenas empresas industriais de
alta tecnologia particularmente preocupadas com
sua capacitação tecnológica. Buscamos assim
concentrar nossa atenção inicial sobre empresas
potencialmente ativas no campo da inovação e da
aprendizagem, a fim de explorarmos os processos e
as dificuldades envolvidas. Os resultados dessa
etapa do projeto foram relatados em Ferreira et
al. (1996).
Na segunda fase da
pesquisa, foi enviado um questionário postal a
um conjunto de pequenas empresas industriais
mineiras de diferentes setores, buscando detectar
as características de seus processos de
aprendizagem e inovação tecnológica.
Para tanto,
utilizamos a base de dados RAIS (Relatório Anual
de Informações Sociais) do Ministério do
Trabalho, relativa ao estado de Minas Gerais e ao
ano de 1992, única base que, à época (final de
1995), continha informações sobre o número de
empregados de cada empresa, visto termos tomado
como critério de caracterização da pequena
empresa industrial o fato de contar até 99
assalariados.
Embora tenham sido
enviados 200 questionários postais, foram
recebidas apenas doze respostas, e um número
elevado de questionários retornou devido a não
terem sido encontrados os destinatários, o que
retrata a alta mortalidade da pequena empresa
industrial brasileira. A composição dos quadros
de pessoal dessas doze empresas se encontra
representada na Tabela 1.
Dessas doze
empresas que responderam ao questionário, temos
que:
- quatro
pertenciam a setores tradicionais, duas delas
atuando na indústria do couro e as duas outras
em fiação e tecelagem;
- seis empresas
pertenciam a setores de média intensidade
tecnológica, sendo três delas do setor
metal-mecânico, duas do setor químico e a
outra, fabricante de material elétrico;
- apenas duas
empresas de alta intensidade tecnológica
responderam ao questionário, uma delas atuando
em instrumentação médica e a outra na
indústria farmacêutica;
- quatro já não
pertenciam à categoria de pequenas empresas,
tendo evoluído e se tornado médias empresas;
- dez se
classificaram como empresas familiares
independentes.
|
No
de engenheiros e técnicos de
nível universitário
|
No
de técnicos de nível médio
|
Pessoal
administrativo de nível
universitário
|
Pessoal
administrativo de nível médio
|
Empresa C-1 |
-
|
1
|
-
|
4
|
Empresa
C-2
|
-
|
1
|
3
|
2
|
Empresa
F-1
|
2
|
1
|
4
|
9
|
Empresa
F-2
|
3
|
4
|
2
|
1
|
Empresa
M-1
|
-
|
1
|
-
|
2
|
Empresa
M-2
|
-
|
-
|
1
|
3
|
Empresa
M-3
|
3
|
7
|
1
|
2
|
Empresa
Q-1
|
5
|
5
|
4
|
-
|
Empresa
Q-2 |
-
|
15
|
1
|
15
|
Empresa
Q-3 |
3
|
1
|
2
|
4
|
Empresa
E-1 |
-
|
-
|
1
|
1
|
Empresa
I-1 |
3
|
12
|
4
|
14
|
|
Tabela 1: Composição dos
quadros de pessoal das empresas que responderam
ao questionário postal
2. INOVAÇÃO E
APRENDIZAGEM TECNOLÓGICA DA PEQUENA EMPRESA
INDUSTRIAL DE MINAS GERAIS: os resultados da
pesquisa postal
Sobre as doze
empresas que responderam ao nosso questionário
postal, temos:
- a empresa C-1
(do setor de beneficiamento do couro) tem
como principais produtos o wet-blue,
semi-acabados, piquelado, vaquetas,
abufalados, nobuk, látego, raspas e
camurças;
- a empresa C-2
(também atuando na indústria do couro)
produz napas diversas, soletas para
calçados, bolsas e cintos;
- a empresa F-1
(do setor de fiação e tecelagem) produz
tecidos 100% algodão;
- a empresa F-2
(do mesmo setor) produz tecido de
algodão popular (morim);
- a empresa M-1
(metal-mecânica) fabrica ferramentas
diamantadas para corte e equipamentos e
acessórios para sondagens e perfuração
em geral;
- a empresa M-2
(metal-mecânica) fabrica e restaura
eixos de transmissão de torque;
- a empresa M-3
(metal-mecânica) produz componentes para
solda de carrocerias de automóveis;
- a empresa E-1
fabrica resistências elétricas, faz
laminação de fios e beneficia mica;
- a empresa Q-1
(química) produz esmaltes
poliesterimídicos, resinas, poliester
insaturado e vernizes eletroisolantes;
- a empresa Q-2
é fabricante de produtos químicos em
geral;
- a empresa Q-3
produz medicamentos como Atagripe,
Diazepan, Tetracilina e Ampicilina;
- a empresa I-1
fabrica produtos biológicos
cardiovasculares.
Face ao pequeno
número de respostas recebidas, não foi
possível analisar os resultados levando-se em
consideração as diferenças setoriais.
O Esforço Tecnológico
Apenas quatro das
doze empresas responderam sobre seus gastos com
P&D&E (pesquisa, desenvolvimento e
engenharia não-rotineira) em 1995, em % das
vendas: 0,25% para F1, 10% para I1, 2% para M1,
15% para M3. Duas empresas declararam não
computar sistematicamente esses gastos.
Apenas quatro
empresas dedicavam funcionários, de maneira
exclusiva, a P&D&E: I1 (2 funcionários),
M1 (1 funcionário), M3 (2 funcionários) e Q1 (2
funcionários).
A Estratégia
Tecnológica
Foram mais
apontadas (entre 22 opções) como estratégias
praticadas a fim de obter vantagem sobre a
concorrência, sobreviver e crescer:
"trabalhar com mais qualidade" (11
citações), "trabalhar com custos mais
baixos" e "estreitar laços com
clientes" (10 citações cada uma),
"estreitar laços com fornecedores" (7
citações), "crescer em seu negócio de
base" e "estreitar laços com centro
técnicos, de P&D e universidades" (6
citações cada).
Quanto às
opções estratégicas para o acesso à
tecnologia, foram consideradas mais
interessantes, em ordem decrescente:
"desenvolver tecnologia em conjunto com
centros de P&D e universidades" (6
citações), "desenvolver tecnologia
internamente, sem parceria" (5 citações),
"desenvolver tecnologia em conjunto com
outra empresa" e "comprar
tecnologia" (4 citações cada).
Quanto ao peso das
diferentes atividades envolvidas no total do
esforço de desenvolvimento tecnológico da
empresa, foi classificado como mais importante o
desenvolvimento de processos (7 citações),
seguido de perto pelo desenvolvimento de produtos
e pelo desenvolvimento gerencial (6 citações
cada).
Quanto às
motivações que levavam a inovar, foram
consideradas as mais importantes, entre 14
opções: "melhorar a qualidade" e
"diminuir os custos" (10 citações
cada), "sobreviver, manter-se no
mercado" (8 citações), "ganhar
prestígio" e "manter um ambiente
interno criativo" (7 citações). Foram as
opções menos citadas: "vender
tecnologia" (zero citações),
"dissuadir a entrada de concorrentes" e
"aproveitar incentivos fiscais"(2
citações cada).
Quanto aos
obstáculos à inovação, foram considerados os
mais importantes, entre 10 opções: "a
escassez de recursos financeiros" (10
citações), "falta de estrutura
laboratorial" e "restrições impostas
pela burocracia ou regulamentação" (6
citações cada) e "dificuldade de acesso à
informação mercadológica" e "volume
de mercado restrito" (5 citações cada). As
opções diretamente relacionadas ao
comportamento tecnológico das empresas
(carência de recursos humanos qualificados,
cultura organizacional pouco propícia à
inovação, competência insuficiente em matéria
de gestão de projetos, dificuldade de acesso à
informação tecnológica) foram pouco apontadas.
A empresa Q3, que
atua no setor farmacêutico, apontou como
obstáculo específico o fato de, em seu setor de
atuação, o desenvolvimento de novos produtos
ser vinculado ao desenvolvimento de novos
produtos químicos.
A Inovação de Produto
Cinco das doze
empresas consideraram já ter inovado: C1, F1,
I1, M3, Q1 (definimos inovação de produto como
a produção e a comercialização de um produto
considerado sem similar no mercado em que é
lançado, sendo radicalmente diferente ou apenas
nitidamente aperfeiçoado).
Cada uma dessas
cinco empresas havia lançado um certo número de
produtos inovadores nos últimos cinco anos: C1
havia lançado 3 produtos inovadores; F1, 2; I1,
3; M3 havia lançado 7 e Q1, 3.
Cada uma dessas
empresas foi convidada a escolher uma de suas
inovações a fim de responder às perguntas
seguintes (relativas à inovação de produto).
Foram escolhidas as seguintes inovações:
fraldas 100% algodão com 70 cm de largura, coroa
diamantada microcravada, gabarito para correção
de veículos acidentados, esmaltes poliésteres
imídicos e tratamento anticalcificante de
tecidos biológicos.
Dentre essas
inovações, uma apresentava novo design, quatro
atendiam a novas exigências de
qualidade/desempenho, uma colocava em prática
uma nova solução técnica e duas preenchiam
novas funções até então não atendidas pelo
mercado, ou seja, haviam sido de caráter
radical.
Das empresas que
haviam inovado, apenas duas haviam interagido
para fazê-lo: uma delas com outras empresas, e a
outra com centro de pesquisa, universidade e
ainda com outras empresas (no caso, a empresa do
setor de instrumentação médica, I1, que havia
lançado uma das inovações radicais).
Três dos projetos
que levaram a essas inovações haviam durado
menos de um ano; um dos projetos havia durado
entre um e dois anos e o terceiro havia durado
mais de dois anos (o projeto de I1). Quanto ao
custo desses projetos, dois deles haviam custado
em torno de 10.000 dólares, e outro em torno de
5.000.
Foram
determinantes para a decisão de inovar: "a
percepção de oportunidades de mercado"
(citado por três das cinco empresas), "a
cultura empresarial, propícia à
inovação" (citado por duas empresas),
"a necessidade de ter produtos
competitivos" (uma empresa).
Nos cinco casos, o
produto ainda era comercializado e o tempo de
vida desses produtos até então era: um ano
(duas empresas), dois anos (duas empresas) e
três anos. Quatro das inovações haviam sido
comercializadas a nível nacional e apenas uma
havia atingido o mercado mundial, de exportação
(o tratamento anticalcificante de tecidos
biológicos de I1). Em dois dos casos, a idéia
da inovação partira dos clientes; em um outro,
do pessoal da empresa. No quarto caso, havia sido
uma idéia conjunta, pessoal da empresa/clientes,
e no quinto, a idéia partira da diretoria da
empresa.
As principais
forças dessas inovações para competir haviam
sido: "seu melhor desempenho técnico em
relação aos concorrentes" (três
citações), "seu menor preço em relação
aos concorrentes" e "ser diferenciado,
não tendo similar no mercado" (duas
citações cada).
Quanto às
principais fontes de informação utilizadas
durante o desenvolvimento e o lançamento dessas
inovações, foram indicadas: "brochuras e
catálogos comerciais" (duas citações),
"jornais e revistas especializados",
"universidades e centros técnicos e/ou de
pesquisa", "congressos e outros
encontros técnico-científicos",
"testes de campo em clientes" e
"aprimoramento do know-how próprio" (1
citação cada). A empresa I1 (de
instrumentação médica) foi a que mais
diversificou suas fontes de informação, tendo
citado quatro tipos diferentes de fontes de
informação utilizadas na preparação da
inovação.
Quanto aos
impactos dessas inovações sobre os quadros
dessas empresas: em dois casos o número de
funcionários aumentou e em dois outros diminuiu
em função das inovações analisadas. E em dois
casos o nível médio de qualificação do
pessoal melhorou. Quanto aos fornecedores, em
apenas um caso eles participaram do esforço de
inovação. Quanto à lucratividade, em dois dos
cinco casos o lançamento da inovação melhorou
a relação lucro líquido / receita de vendas.
Quanto às
principais dificuldades encontradas pelas
empresas no desenvolvimento e lançamento das
inovações, foram mais apontadas as dificuldades
técnicas no desenvolvimento dos projetos (três
citações), contra uma citação de dificuldade
na comercialização, outra na qualificação
inadequada do pessoal da empresa e ainda outra na
prestação de assistência técnica aos
clientes.
A Inovação de Processo
Das doze empresas
da amostra, a metade introduziu mudanças
tecnológicas (técnicas ou organizacionais) em
seu processo de produção (C-2, I-1, M-2, M-3,
Q-1 e Q-3), cinco delas tendo se equipado com
novas máquinas, tendo sido também apontadas a
adoção da Gestão pela Qualidade Total e
mudança no lay-out.
Como principais
fontes de informação e/ou apoio para essas
mudanças, os próprios clientes foram apontados
por quatro empresas, consultores externos foram
apontados por três empresas e fornecedores por
duas.
No que diz
respeito aos impactos dessas mudanças de
processo, quatro das seis empresas afirmaram
terem vivido um aumento na qualificação média
de seus funcionários; quatro observaram
melhorias no controle de custos; cinco empresas
tiveram melhoria na qualidade dos produtos; três
empresas apontaram melhoria na obediência aos
prazos em decorrência das mudanças introduzidas
nos processos de produção. Cinco empresas
afirmaram terem se tornado mais ágeis.
A Aprendizagem
Tecnológica
As opções
consideradas mais importantes para o acesso à
tecnologia foram: desenvolver
tecnologia
internamente sem parceria e, seu oposto,
desenvolver tecnologia em conjunto com centros de
P&D e universidades (as outras opções
seriam o desenvolvimento conjunto com outra
empresa, comprar tecnologia ou terceirizar o seu
desenvolvimento).
Dentre as
atividades realizadas pelas empresas em seu
esforço de desenvolvimento tecnológico, o
desenvolvimento de produto foi considerado a mais
importante, seguido pelo desenvolvimento de
processo, o desenvolvimento de máquinas e
equipamentos e, por fim, o desenvolvimento
gerencial.
Para o seu
desenvolvimento tecnológico, as empresas mantém
contato, em primeiro lugar, com outras empresas,
mas também foram consideradas importantes as
universidades e o Serviço de Apoio à Micro e
Pequena Empresa.
Apenas as empresas
M-2 e M-3, do setor metal-mecânico, possuem
títulos de propriedade intelectual (marcas e
patentes) e operam sob licença de títulos
detidos por outros.
A metade das
empresas (todas as do setor metal-mecânico e as
do setor químico) promove habitualmente
treinamento para seus funcionários,
principalmente através de cursos do SEBRAE e/ou
SENAI e de cursos internos à empresa, realizados
pelo pessoal da própria empresa. O conteúdo
desse treinamento é principalmente técnico, mas
envolve também a gestão pela qualidade total,
informática e desenvolvimento gerencial.
Apenas as empresas
C-2 (couro) e F-1 (fiação e tecelagem)
afirmaram terem tido apoio externo para o seu
processo de capacitação tecnológica.
Das doze empresas,
sete monitoram sistematicamente a evolução de
seu ambiente de negócios. As principais fontes
de informação tecnológica e mercadológica
utilizadas pelas empresas para esse monitoramento
ambiental são "as feiras industriais"
(a opção mais apontada, com 7 citações). Os
"bancos de dados via rede de
telecomunicações", os "jornais e
revistas especializados", "as
universidades e centros técnicos e/ou de
pesquisa", o "SENAI" e o
"SEBRAE" tiveram 4 citações cada.
As principais
carências de seus processos de capacitação
tecnológica apontadas pelas empresas foram a
"falta de pessoal qualificado" (6
citações), a "falta de recursos para
treinamento" (5 citações), a
"dificuldade em obter financiamento" e
a "falta de infra-estrutura (computadores,
laboratórios)" (com 4 citações cada) e a
"falta de informação tecnológica"
(com 3 citações).
3. DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS: a importância do desenvolvimento de
redes empresariais
Consideramos que
nosso projeto alcançou alguns importantes
resultados, apesar do pequeno número de
questionários postais devolvidos:
- a primeira fase
de nossa pesquisa, relatada em Ferreira et al.
(1996), revestiu-se de um caráter exploratório,
ou seja, procurou explorar uma faceta da vida
empresarial brasileira pouco estudada e
conhecida: a atividade inovadora e o esforço de
aprendizagem tecnológica das pequenas empresas
de base tecnológica brasileiras.
Essas pequenas
empresas tem como base de sua atividade um
conhecimento especializado, relativamente raro e
valioso, e apresentam uma alta concentração de
recursos humanos qualificados, de "massa
cinzenta". Caracterizam-se pelo alto valor
agregado de sua produção e, sobretudo, pela
capacidade de criar tecnologia. Como enunciado em
Waissbluth et al. (1992), página 20, por nós
traduzido: "a pequena empresa inovadora tem
um perfil radicalmente distinto ao da pequena
empresa convencional, e isto encerra
implicações profundas para as políticas
governamentais de apoio ao setor".
Esta capacidade de
criar tecnologia e de lançar produtos inovadores
e diferenciados, bastante rara entre as empresas
brasileiras, faz com que as pequenas empresas de
base tecnológica representem um grande potencial
de crescimento e dinamização do setor
produtivo. Mas, para que esse potencial se torne
realidade, é preciso que estas empresas
encontrem condições propícias a seu
"florescimento".
Criar a
infra-estrutura e o ambiente propícios à
maturação dessas empresas é uma das mais
importantes missões das políticas de inovação
dos países desenvolvidos. No Brasil, essa
preocupação ainda se encontra timidamente
refletida nas políticas industrial e
tecnológica.
Pudemos constatar,
nessa primeira fase de nossa pesquisa, o grande
dinamismo e "garra" das pequenas
empresas de base tecnológica do estado de Minas
Gerais e alguns dos fatores que hoje dificultam
e, em alguns casos, impedem que elas transformem
em realidade o grande potencial de geração de
empregos (sobretudo indiretos) e renda que as
caracteriza.
A este propósito,
damos a palavra a Poulin et al.(1994",
pg.18-19, tradução livre), que tão bem
souberam sintetizar a questão que se coloca às
empresas atualmente:
"A nova
realidade, ao mesmo tempo mais complexa e mais
exigente, fez surgir novos desafios. Para
sobreviver, a empresa deve hoje contar com uma
grande capacidade de inovação fundada sobre a
capacidade de bem administrar a mudança
tecnológica, uma flexibilidade de funcionamento
que lhe permita reagir com presteza às
flutuações de seu ambiente, e a mobilização
de seus recursos humanos, reunidos em torno de um
projeto comum, estimulados por um clima de
abertura que favorecesse a emergência de idéias
inovadoras. Ela deve constantemente
"aprender a aprender", se questionar,
nada tomar por garantido".
Mas, mesmo essas
"novas regras", não são suficientes
se ela continuar a se comportar como um castelo,
uma fortaleza isolada, ou seja, se ela acreditar
que tudo pode fazer sozinha, que tudo pode
controlar, tanto os recursos materiais quanto o
conhecimento, sem estabelecer parcerias.
Em oposição, a
empresa-rede constrói uma rede de relações de
cooperação, parceria, troca à sua volta., até
mesmo com seus concorrentes (os programas
europeus de pesquisa pré-competitiva cooperativa
são a expressão mais clara dessa realidade).
Mas também com clientes para o desenvolvimento
de produtos arrojados, com fornecedores para a
melhoria de processos, com terceiros, para a
realização de atividades fora de sua
competência específica, com organismos de
pesquisa e universidades para fazer avançar a
tecnologia.
No que diz
respeito à formação de redes por pequenas
empresas, Poulin et al. (1994) nos lembram os
sucessos obtidos na Dinamarca, onde o agrupamento
de pequenas empresas para exportarem de forma
concertada teve um grande impacto positivo sobre
a balança comercial, e na Itália, onde a
concentração de empresas quase artesanais,
concentradas no norte do país, na forma de
acordos de comercialização, de design e de
produção, permitiu-lhes atingir um nível de
competitividade compatível com o mercado
internacional.
Nessas redes se
associam competências, compartilham-se recursos
e trocam-se informações e conhecimento. É
provável que o maior desafio a ser enfrentado
pelas políticas industriais, em particular pelas
políticas de inovação, seja exatamente o de
apoiar a construção e o fortalecimento de tais
redes, por onde ciência, competência e
informação transitam e formam a base para a
criação de tecnologia e atividade econômica
(Callon e Law, 1987).
No caso
brasileiro, consideramos que nosso projeto
contribui, ainda que de forma modesta, jogando um
facho de luz sobre algumas empresas de base
tecnológica, sobre suas especificidades,
contribuindo assim para atrair a atenção dos
responsáveis pelas políticas públicas, dos
órgãos de financiamento e da comunidade
acadêmica para essa fonte de emprego e renda;
- a segunda fase
de nossa pesquisa teve como principal resultado a
geração de um instrumento de pesquisa, o
questionário postal, que cobre as principais
facetas dos processos de aprendizagem e de
inovação tecnológica da empresa industrial. O
desenvolvimento desse questionário foi baseado
em um estudo preliminar sobre o estágio atual de
conhecimento sobre esses dois processos.
Tal questionário
poderá vir a ser aplicado, com o apoio de uma
base de dados mais atualizada sobre o tecido
industrial, a diferentes setores, a fim de
detectar suas especificidades no que diz respeito
à aprendizagem tecnológica, assim como a
categorias especiais de empresas, como aquelas
incubadas.
E, da análise dos
doze testemunhos, fica a noção de que aos
poucos vai se generalizando a compreensão de
que, além da busca da qualidade e do controle de
custos, a inovação é uma grande avenida que
leva à competitividade, que não é exclusiva
para as empresas dos setores a alto conteúdo
tecnológico, mas sim para quem sabe criar. E no
caminho da busca da inovação, parece que as
pequenas empresas brasileiras começam a
construir suas redes de inovação, buscando a
parceria de universidades, centros de pesquisa e
técnicos, clientes;
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Callon, M.; Law, J..
Economic markets and scientific innovation: notes
on the construction of sociotechnical networks.
Centre de Sociologie de lInnovation,
École de Mines de Paris. Paris: 1987;
Ferreira, Marta; Carvalho,
Aloysio; de Andrade, Daniel: de Soares, Josiene;
Zuim, Ricardo. O processo de capacitação e a
inovação pela pequena empresa de base
tecnológica de Minas Gerais. Anais do XVI
ENEGEP (CD-ROM). Piracicaba: 1996;
Matesco, Virene Roxo.
Esforço tecnológico das empresas brasileiras.
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA),
texto para discussão n. 333. Rio de Janeiro:
1994;
Poulin, D.; Montreuil, B.;
Gauvin, S.. LEntreprise Réseau.
Publi-Relais. Montreal: 1994;
Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) /
Instituto de Economia Industrial (IEI).
Indicador de Competitividade da Micro e Pequena
Empresa Industrial (estudo).
Brasília: 1993;
Waissbluth, M.; Testart,
E.; Buitelaar, R.. Cien Empresas Innovadoras
en Iberoamerica. Universidad de Valparaíso
Editorial. Valparaíso: 1992.
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