Um
Framework para o Estudo da Mudança Estratégica
em Pequenas Empresas de Construção de
Edificações
Rodrigo
Bandeira de Mello, M. Eng., doutorando
UFSC
- EPS - PPGEP - NEST
Cristiano
J. C. de Almeida Cunha, Dr. rer. pol.
UFSC
- EPS - PPGEP - NEST
Abstract:
The study of
organizational strategic change has become
capital for practitioners and researchers,
specially for Brazilian building industry firms.
This firms has been affected by a high
governmental-influenced turbulent environment
over the years, that forced them to cope with
change through strategies formulated by a
peculiar non-planned, very adaptive and reactive
process. This paper detail this process and
presents a framework to study the strategic
change on small building firms under a
qualitative research strategy.
Key words: Strategic Change,
Qualitative Research, Building Industry
1. Introdução
As constantes
transformações dos mercados consumidores, e
conseqüêntemente dos produtos e dos padrões de
concorrência, impelem as empresas para um
terreno pouco conhecido, cujo ambiente
empresarial encontra-se configurado por
instabilidades e complexidades. Isso resulta na
baixa previsibilidade e interrelação entre os
elementos ambientais, tornando mais difícil para
as organizações a elaboração de estratégias
que orientem seus negócios face às condições
ambientais.
O ambiente em constante mutação pode levar ao
fracasso as organizações que não se adaptarem
ou se anteciparem às mudanças. Entender esse
paradigma de constantes transformações torna-se
fundamental para o sucesso da organização.
As características conjunturais conferem às
mudanças estratégicas empreendidas pelas
empresas um caráter central na sua
administração, pois possuem a responsabilidade
de orientar os negócios e garantir a
sobrevivência e o sucesso da empresa.
Dentro deste contexto, a ICCSE - Indústria da
Construção Civil Subsetor Edificações
brasileira é mais uma vez palco de pesquisas
visando a solução de seus problemas crônicos e
a adaptação das empresas às condições
sócio-econômicas emergentes.
A pressão exercida pelas condições ambientais,
períodos históricos de incertezas e falta de
previsibilidade no comportamento dos elementos
ambientais que afetam a ICCSE contribuíram para
gerar um clima de constante desconforto para as
construtoras, forçando-as a mudarem suas
estratégias.
Pode-se citar eventos importantes na evolução
histórica do contexto setorial, como: o período
anterior a década de 80 - marcado por grandes
obras - passando pela falência do BNH - Banco
Nacional da Habitação, até a nova lei de
licitações e o código de defesa do consumidor.
Parafraseando (Vargas, 1996), esses eventos têm
mudado a "(...)lógica das construtoras de
ganharem dinheiro".
Porém, dois problemas, cujos efeitos entram em
ressonância, são fontes de dificuldades para as
empresas "mudarem essa lógica" de
sucesso e sobreviverem às mudanças ambientais:
a falta de referências e instrumentos
científicos que auxiliam as empresas no processo
de mudança estratégica, e as peculiaridades da
ICCSE.
Quanto a falta de ferramental científico,
conforme Nelson apud Martignago (1997), as
referências para a elaboração de estratégias
desenvolvidas para países do primeiro mundo têm
pouca correlação com o contexto dos países do
terceiro mundo, incluindo o Brasil.
O outro problema são as peculiaridades da ICCSE
brasileira, e da própria ICC - Indústria a
Construção Civil, que diferem bastante dos
outros setores econômicos. Pode-se citar algumas
peculiaridades: as características do processo
produtivo; o subsetor edificações é marcado
por um número muito grande de pequenas empresas
(menos de 100 funcionários), e sem experiência
em planejamento estratégico (SENAI, 1995); a
utilização da ICC como desaguadouro de
mão-de-obra em época de crises, e também como
instrumento regulador do governo; e a ICC sofre
diretamente os problemas de ações políticas e
da conjuntura econômica, devido às
características do seu produto (Rossetto, 1997),
tais como a falta de financiamentos ou a de
formação de uma poupança interna dos
consumidores.
Em suma, esses problemas dificultam o trabalho
dos empresários que tentam adaptar seus
negócios às mudanças ambientais julgadas por
eles importantes. A adaptação com o ambiente é
conseguida através de mudanças estratégicas na
empresa. Mais especificamente, mudanças a nível
empresarial e a nível funcional. Na ICCSE três
funções da empresa construtora são
fundamentais para o sucesso: a função
produção, a de marketing e a de Finanças.
Defende-se aqui que os esforços de adaptação
das construtoras passam por ações a nível
empresarial e nessas três funções.
Com o intuito de colaborar com a construção de
um referencial para elaboração de estratégias
específico para esse setor, esse trabalho
apresenta um framework para o estudo das
mudanças estratégicas sob o ponto de vista dos
gerentes. Possibilita estudar quais as mudanças
estratégicas que ocorreram ao longo do período
de estudo, e por que elas foram realizadas, com
base na percepção dos gerentes, em uma empresa
típica da ICCSE : uma pequena construtora de
edificações.
Com base em uma estratégia de pesquisa
contextualista, e realizando um estudo
longitudinal das mudanças estratégicas, o framework
aprofunda-se até o nível das estratégias
funcionais. Mais especificamente, identifica
quais as estratégias empresariais adotadas, e
como mudou o conteúdo das estratégias de
produção, marketing e finanças, procurando
mostrar o relacionamento delas com o sucesso, ou
fracasso, da organização em cada período e
consequentemente a importância relativa de cada
uma delas para a sobrevivência das empresas ao
longo do período estudado.
2. O estudo das
mudanças estratégicas nas organizações
Antes de apresentar as
características do framework, é
necessário mostrar as considerações teóricas
e metodológicas da pesquisa que servem como
"pano de fundo" para a aplicação
dessa ferramenta.
As organizações são estudadas como sistemas
abertos em constante interação como ambiente
(campo externo e interno a organização onde
originam-se forças e influências sobre a
organização). O ambiente pode ser dividido em
objetivo e subjetivo (Bowditch e Buono, 1992). O
ambiente subjetivo é particular para cada
organização pois é formado a partir da
percepção dos líderes da empresa. É com base
no ambiente subjetivo que os líderes elaboram as
estratégias, ou seja, exercem as "escolhas
estratégicas" para adaptar a empresa às
mudanças ambientais (Child, 1972).
Porém, as estratégias não são sempre
formuladas por um planejamento estratégico.
Podem ser consideradas como um padrão formado
pelas várias ações/decisões tomadas pela
gerência, em função de suas percepções
ambientais, para adaptar a empresa ao ambiente. A
estratégia realizada pela empresa emerge a
partir desse padrão inferido das decisões
(Mintzberg, 1987). Essas decisões podem ser
tomadas em vários níveis dentro da empresa,
existindo uma hierarquia estratégica. Os níveis
são corporativo, empresarial e funcional (Mello,
1997).
O processo decisorial de formulação
estratégica envolve um jogo político dentro da
empresa. Baseia-se na percepção, dos grupos que
detém o poder, quanto aos fatos reais do
ambiente objetivo da organização (Child, 1972).
Portanto, o estudo da mudança ocorrida nas
estratégias da empresa, que tiveram como
objetivo adaptar a empresa ao ambiente, deve
considerar as questões contextuais (o contexto
em que ocorreram as mudanças) e processuais (a
ocorrência dos eventos ao longo do tempo).
Segundo Pettigrew (1987), a mudança estratégica
deve ser estudada em três dimensões: a) o
processo ("como" mudou); b) o contexto
("por que" mudou); e c) o conteúdo
("o que" mudou).
Com base nessas três dimensões, a coleta de
dados mais adequada são entrevistas
semi-estruturadas com os principais líderes da
empresa, procurando identificar quais as
mudanças e o contexto no qual ocorreram. Também
são utilizados dados quantitativos para formar o
ambiente objetivo, mostrando a evolução
histórica do ambiente da empresa.
Nesse sentido, deve-se aplicar o framework
proposto dentro de uma pesquisa qualitativa de
caráter contextualista e processual, onde os
fatos são interpretados em um estudo
longitudinal (Kimberly et al., 1987).
Dessa maneira, descreve-se e explica-se as
mudanças ocorridas e o conjunto de razões que
nortearam as escolhas estratégicas da empresa ao
longo do tempo.
3. Formulação e
adaptação estratégica em pequenas empresas
Os conceitos
sobre mudança estratégica foram desenvolvidos
baseados em estudos de grandes organizações.
Nesse sentido, quando estuda-se empresas de
pequeno porte (menos de 100 funcionários)
algumas considerações devem ser feitas. Por
exemplo, nas grandes organizações, as
estratégias são geralmente planejadas. No
processo de planejamento estratégico, são
definidas a missão e a visão, a análise de
oportunidades e ameaças, os pontos fortes e
fracos da empresa, e os objetivos. A estratégia
empresarial é formulada para atingir esses
objetivos. As estratégias funcionais seriam
planejadas para, dentro de suas áreas, apoiar a
estratégia da empresa e atingir os objetivos.
Porém, nas organizações de pequeno porte esse
processo é diferente, principalmente porque as
estratégias, geralmente, não são planejadas,
necessitando, assim, de uma abordagem particular
(Nagel, 1981; Pleitner, 1989; Atkins, et al.,
1995; Kim et al. 1995).
Em geral, as pequenas empresas possuem
características, as quais a teoria de
formulação e adaptação estratégica baseada
nas grandes empresas não consegue explicar.
Podem ser divididas em dois grandes grupos : a)
quanto a "figura do dono"; e b) quanto
ao tipo de gerenciamento e estrutura
organizacional.
A característica mais marcante nessas empresas
é o poder exercido pelo líder, ou o
"dono" (Pleitner, 1989). "O papel
da alta gerência no processo estratégico tem
sido enfatizado por muitos autores, especialmente
no contexto das pequenas empresas, onde o poder
tende a ser centralizado no principal
líder" (Kim et al., 1995).
Dessa maneira, os relacionamentos do
"dono" com os stakeholders
(grupos que influenciam as ações da empresa)
são fundamentais para a formulação de
estratégias. Segundo Atkins (1995), a
efetividade na interpretação da turbulência
ambiental e tomada de decisões para lidar com a
mudança ambiental da empresa é diretamente
proporcional a quantidade de relacionamentos do
"dono". Aumenta-se as oportunidades em
potencial e as suas "idéias
empreendedoras".
Os stakeholders podem ser divididos em 3
grupos, quanto ao seu relacionamento com o
"dono" da empresa (Atkins, 1995): a) os
que tem ligação pessoal; b) os que tem
ligação profissional; e c) empresas com
ligação profissional. Pode-se citar alguns dos stakeholders
mais comuns: membros da família, gerentes,
empregados, consultores, investidores,
consumidores e fornecedores.
Outra característica importante das pequenas
empresas que as diferem das grandes empresas é
quanto o estilo gerencial e a estrutura
organizacional. É notório que muitas pequenas
empresas têm sucesso ao longo do tempo, mesmo
não praticando o tipo de "gerenciamento
estratégico" usualmente descrito pela
teoria do planejamento estratégico.
Para Pleitner (1989), muitos pequenos
empreendedores têm tido sucesso através da
improvisação e intuição. Segundo Nagel
(1981), os pequenos empreendedores não sentem a
necessidade de implementar procedimentos formais
de planejamento estratégico, e suas análises
externas baseiam-se em "sinais" do
ambiente, que podem ser oportunidades ou
ameaças. A percepção desses "sinais"
forma a base para a decisão estratégica.
Quanto a estrutura organizacional, nota-se o
achatamento de níveis hierárquicos e uma
estrutura com divisão funcional, onde o líder
da empresa gerência cada função diretamente,
ou indiretamente exercendo grande influência
sobre as decisões do gerente da área (Langford,
1991).
Com base nessas características, considerou-se
um tratamento particular para as pequenas
empresas no estudo de suas mudanças
estratégicas, onde dois pontos são importantes:
a) a definição de estratégia: é o padrão
formado das decisões tomadas pelo líder,
seguindo o modo empreendedor (Mintzberg, 1973),
face à sua percepção das mudanças ambientais.
Essa definição é justificada pela falta de
planejamento estratégico, pelo caráter
improvisador, incremental e adaptativo das
decisões nessas empresas, que diferem da rigidez
de uma estratégia planejada resultante de um
processo de planejamento estratégico; e b) o
escopo escolhido para o estudo das mudanças que
deve abordar as mudanças estratégicas do nível
empresarial ao nível funcional das estratégias
de produção, marketing e finanças.
Dessa maneira, a figura 3.1 mostra o modelo de
formulação e adaptação estratégica, no qual
baseia-se o framework proposto.
Basicamente, é composto pelos seguintes
elementos: idéias empreendedoras, as decisões a
nível das funções (estratégias funcionais),
as decisões em outros níveis, a estratégia
empresarial e o ambiente organizacional.
Figura 3.1 -
Modelo de formulação e adaptação estratégica
em pequenas empresas
Em linhas gerais, a
finalidade do processo descrito no modelo é
adaptar a empresa ao ambiente. Essa adaptação
ocorre envolvendo a interação de três
elementos - as idéias empreendedoras as
decisões a nível das funções e as decisões
em outros níveis - com o ambiente.
Consequentemente, a estratégia empresarial
emerge desse processo, sendo inferida através de
um padrão formado por essa interação.
Em geral, as estratégias nessas empresas não
são planejadas, mas formadas por decisões
flexíveis, incrementais e orientadas pelas
percepção ambiental dos líderes. Dessa
maneira, as iniciativas dos projetos da empresa
partem das idéias empreendedoras dos seus
líderes, que para colocarem em prática, agem
nas funções decidindo sobre a organização dos
recursos, principalmente os de produção,
finanças e marketing, devido ao
achatamento na hierarquia organizacional. Outras
decisões, fora do nível funcional, também são
tomadas pelos líderes para colocar em prática
suas idéias empreendedoras, p. ex.: parcerias
estratégicas em projetos específicos, redes de
influências, infra-estrutura organizacional,
etc. Como mostra o modelo, o processo é cíclico
e todos os elementos interagem entre si,
caracterizando um processo adaptativo e
incremental, visando melhorar a performance da
empresa, ou a sua sobrevivência.
Em suma, as escolhas estratégicas da
organização, face à percepção ambiental dos
líderes, podem ser feitas através : a) de
decisões a um nível não funcional que,
indiretamente afetam e são afetadas pelas
decisões nas funções; b) ou diretamente
através das decisões funcionais. Há portanto a
necessidade de estudar as mudanças estratégicas
nessas empresas considerando as mudanças nas
estratégias funcionais, visto que em última
instância, são as funções da empresa que
recebem e operacionalizam as influências de
todos os elementos do processo.
Nesse sentido, uma típica empresa (pequeno
porte) da ICCSE possui características que
exigem a utilização do framework baseado
nesse modelo para pequenas empresas. Pode-se
assumir tal pressuposto, baseado nas
características apresentadas pelas construtoras
da ICCSE (SENAI, 1995; Mello et al., 1996,
Martignago, 1997 e Rossetto, 1997) : a) a maioria
das empresas são pequenas; b) a estrutura
organizacional tende a ser achatada, com poucos
níveis hierárquicos; c) possuem um processo de
formulação estratégica semelhante ao modo
empreendedor, onde a figura do dono, ou do
principal diretor, influencia fortemente as
decisões. Seus paradigmas, valores e
experiências passadas fornecem um filtro para as
ações a serem estabelecidas; d) como
conseqüência, grande parte das ações a nível
funcional são decididas pela gerência - o dono
ou principal executivo, e são respostas diretas
à sua percepção da mudança ambiental. São
adaptativas e incrementais; e) em geral, não
possuem um processo formal de planejamento
estratégico, nem se utilizam de ferramentas para
análise estratégica; f) são influenciadas por stakeholders
que possuem estrito contato com o líder da
empresa.
4. O framework
proposto
Baseado nas idéias
exposta na seção anterior, apresenta-se o framework
proposto. Ele reúne os conceitos básicos da
mudança estratégica, considerando as
peculiaridades das pequenas empresas construtoras
de edificações.
Em suma, o framework proposto permite
estudar as mudanças estratégicas da
organização, através das escolhas
estratégicas da gerência ao longo do tempo,
frente a sua percepção das condições
ambientais.
O framework tem como "pano de
fundo" as três dimensões da estratégia -
processo, contexto e conteúdo - propostas na
literatura específica, mas dentro das
características das pequenas empresas. A tabela
abaixo mostra como essas três dimensões estão
presentes no framework.
Dessa maneira,
as informações coletadas são organizadas, os
padrões são identificados e organizados segundo
uma escala temporal. As mudanças nos padrões
para cada estratégia (E.E - estratégia
empresarial, E.P. - estratégia de produção,
E.M. - estratégia de marketing e E.F. -
estratégia financeira) são então representadas
segundo o framework exposto abaixo.
Os diferentes
padrões são representados graficamente,
salientando-se as mudanças para determinados
períodos. O quadro acima mostra um exemplo de
preenchimento do modelo para as mudanças desde
1980 até a atualidade (a figura está cortada).
Entretanto, a abrangência do estudo longitudinal
varia em cada caso.
O framework pode ser visualizado, em um
nível mais detalhado, conforme o quadro abaixo.
As setas representam as várias decisões tomadas
pela gerência, que fornecem um padrão da
estratégia. Em um outro período, esse padrão
muda, pois as ações/decisões são orientadas
de outra forma.
Os dados coletados
devidamente organizados complementam esse modelo.
O framework apenas fornece a análise
gráfica de "quando" mudou através da
análise dos dados coletados. Porém, isso
somente é possível através de uma prévia
organização e análise desses dados, que
complementam o estudo fornecendo "como"
ocorreram as mudanças e "por que". Os
dados complementares consistem em uma análise do
conteúdo das entrevistas, devidamente
transcritas para complementar o framework.
Portanto, as idéias empreendedoras e as
decisões nos níveis não funcionais são
identificadas quando organiza-se e analisa-se os
dados para preencher o framework.
Dessa maneira
pode-se descrever, ao longo do período estudado,
quando houve mudança nos padrões formados pelas
decisões relativas a cada função, ou seja,
quando houve mudança estratégica. Pode-se
descrever também qual as estratégias
empresarias adotadas implicitamente em cada
período e, explicar "como" e "por
que" ocorreram as mudanças, utilizando os
dados complementares.
O framework permite ainda dois tipos de
análises: a) análise horizontal: avalia as
mudanças em cada função ao longo do tempo; b)
análise vertical: dentro de um período
especificado, descreve o inter-relacionamento
entre as funções. Pode-se descrever, qual a
função que mais sofreu mudanças, e qual a
função que liderou as mudanças.
Essas análises permitem discutir sobre: a) qual
a função que mais mudou; b) qual a função que
liderou as mudanças, em determinados períodos;
c) como ocorre os inter-relacionamentos das
funções no processo decisório da empresa; d)
qual a importância relativa de cada função
para o sucesso da organização, em determinados
períodos e para o momento atual; e) qual era a
estratégia empresarial implicitamente definida
para determinados períodos, baseada nas
estratégias funcionais.
É importante salientar que todas essas
discussões são possíveis somente com a
análise conjunta dos dados que fornecem, quais
foram as mudanças, suas causas e como ocorreram.
Dessa forma, consegue-se a interação de todos
os elementos descritos no modelo de formulação
e adaptação estratégica proposto para essas
empresas.
5. Considerações
Finais
O framework
apresentado neste trabalho serve como um auxílio
para a condução do trabalho do pesquisador no
campo e para possibilitar a análise das
informações coletadas. Porém, devido às
características qualitativas da estratégia de
pesquisa considerada para o estudo das mudanças
estratégicas, o framework proposto não
se constitui de um modelo previamente elaborado,
pois iria restringir a exploração dos
fenômenos e impedir a descoberta de novos fatos.
Trabalhos sobre o estudo da mudança estratégica
através de uma pesquisa contextualista e
processual, que considera a percepção dos
gerentes sobre as mudanças ambientais, são
desenvolvidos pelo NEST - Núcleo de Estudos
Estratégicos. O grupo que estuda as empresas da
ICCSE, formado a quatro anos, já conta com
dissertações (Mello, 1997; Martignago, 1997 e
teses (Rossetto, 1997) sobre o assunto. O framework
descrito neste trabalho tem sido aplicado em
estudos de caso (Mello, 1997) e pertence ao
conjunto de ferramentas utilizadas pelo grupo nas
pesquisas.
Portanto, com a leitura desse artigo, podem
surgir questões cuja solução exige a leitura
dos trabalhos do grupo, tais como: a) uma
revisão aprofundada da literatura sobre a
estratégia de pesquisa utilizada; b) a
evolução histórica do ambiente da ICCSE, que
forma o ambiente objetivo das empresas; c) como
identificar o conteúdo das estratégias
funcionais nas empresas da ICCSE; e d) o modelo
de formulação estratégica para a ICCSE.
Contudo, o framework apresentado constitui
de uma importante ferramenta que permite resgatar
a história da empresa, fornecendo uma boa base
para a conscientização de futuras mudanças a
serem implementadas pela organização.
Nesse sentido, procura-se resgatar a história da
empresa, organizar e sistematizar as idéias dos
empresários, possibilitando a criação de
modelos de referência para mudanças
estratégicas. Conforme Seymour (1995), trabalhos
seguindo a metodologia interpretativa são mais
descritivos do que prescritivos, e fornecem boa
base empírica para que futuras prescrições
possam ser feitas. Espera-se, portanto, que esses
modelos venham a suportar e incentivar as ações
empreendedoras no setor, principalmente, visando
atenuar os efeitos das descontinuidades dos
serviços que tanto impedem o sucesso dos
programas de melhorias na ICCSE.
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